Passamento do General Loureiro dos Santos

Antes de tudo, uma justificação por ter estado cerca de um mês fora do vosso convívio e do Vivências Press News. Razões de saúde, primeiro, e apoio e orientações académicas, depois, compromissos que não podia deixar de colocar em prioridade, assim o levaram a este “intervalo”.
Mas a razão principal é prestar a minha homenagem ao General Loureiro dos Santos, hoje falecido.
Estou à vontade, porque nunca foi alguém da minha simpatia por algumas das suas intervenções na crise político-militar angolana e da sua indefectível defesa por um dos intervenientes, que não era o mesmo que eu atentava.
Reconhecia, enquanto antigo aluno na área das Relações Internacionais e da Geo-estratégia, que como estratega, a par do General Cabral Couto, era um dos maiores estrategas portugueses e, nesta área, o mais capacitado académico português e um dos mais importantes a nível europeu. Foi, e continuará a ser um dos meus “professores” ao longo da minha vida académica. Ainda hoje, mantenho em arquivo alguns dos seus textos que o “extinto” jornal matutino – agora é um jornal digital – Diário de Notícias publicava a par do então Comandante Virgílio de Carvalho, entre outros.
Todavia, só os imbecis ou os néscios, não mudam e o que se passou nos idos de 2011, há 7 anos, precisamente, ainda que não me tenha colocado entre os seus grandes defensores, a ajudar a mudar a minha visão sobre Loureiro dos Santos, como analista político.
Não foi razão suficiente, mas foi, talvez, o leit-motiv que precisava para manter uma mente mais aberta fora do âmbito académico, sem deixar de manter os meus princípios e a minha verticalidade.
Por quando do lançamento do meu livro, “Angola, Potência Regional em Emergência”, o General esteve presente numa das primeiras filas como mero curioso, ainda que com o livro já na mão.
Após a apresentação, foi um dos intervenientes no período dos comentários – perguntas e respostas e as suas pertinentes e assertóricas palavras (soube, posteriormente, que ele conhecia-me bem em termos políticos) sobre um livro que tinha acabado de obter, não tenho dúvidas, contribuiu para que muitos comprassem logo de seguida o livro e quase tenham esgotado – ou esgotaram – o stock que tinha sido levado para a apresentação.
Como escrevi num parágrafo anterior, só os imbecis ou os néscios, não mudam. Essa sua atitude levou-me a olhar mais para Loureiro dos Santos como um todo e não só como um académico e compreender como as suas opiniões eram mais sustentadas do que eu tinha em conta.
De muitos pensadores, sempre soube distinguir a área política da via academial. Algo que não conseguia fazer, no caso do General Loureiro dos Santos. Mas pela forma aberta e crítica como se apresentou no lançamento, passei a seguir com mais acuidade os seus pensamentos. Não deixou de manter uma linha política com que eu não me identifico. Como muitos.
Hoje, com 82 anos, ocorreu o seu passamento físico. Ficam os seus pensamentos políticos e académicos e a sua inúmera obra literária.
RIP.
*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado