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Portugal: João Lourenço entra directamente para o Top 10 dos Mais Poderosos de 2018

Quando João Lourenço tomou posse, a 26 de Setembro de 2017, a esmagadora maioria dos observadores (angolanos incluídos) vaticinou que o novo Presidente de Angola seria um clone de José Eduardo dos Santos, que havia liderado os destinos do país durante 38 anos. O prognóstico revelou-se errado e João Lourenço agiu rápido no desmantelamento da teia do poder urdido pelo seu antecessor.

“Muitos pensaram que iria ser um clone de José Eduardo dos Santos. Enganaram-se. Num ápice, João Lourenço ganhou a fama de exonerador implacável.”

O chefe de Estado demitiu dezenas de líderes de cargos públicos entre os quais Isabel dos Santos, da Sonangol, José Filomeno dos Santos, do Fundo Soberano de Angola, e Valter Filipe, do Banco Nacional de Angola. O afastamento dos filhos de José Eduardo dos Santos foi visto como uma prova de força de João Lourenço, o qual recebeu o cognome de “exonerador implacável”.

Em Angola e também fora dela criou-se a expectativa de que o novo Presidente tinha encetado um caminho reformador do qual não há retorno.

” A fonte de poder de João Lourenço emana do lugar que ocupa e também das posições relevantes que a Sonangol tem na Galp e no BCP.”

A grande prova de força de João Lourenço com Portugal foi o caso Manuel Vicente. O antigo vice-presidente de Angola estava acusado desde 2012, de ter corrompido um magistrado português, Orlando Figueira, e o processo arrastava-se desde então. Eduardo dos Santos, na altura, limitou-se a sinalizar que já não existiam condições para uma “parceria estratégica” com Portugal, mas não saiu publicamente em defesa do seu número dois.

A “ofensa” portuguesa

João Lourenço tomou posse e transformou este caso numa bandeira. Em Janeiro de 2018, durante uma conferência de imprensa, classificou como uma “ofensa”, o facto de Portugal não ter aceitado transferir o processo de Manuel Vicente para Angola. “Consideramos isso uma ofensa,não aceitamos esse tipo de tratamento e por esta razão mantemos a nossa posição e vamos aguardar pacientemente a conclusão do processo em Portugal”, afirmou.

A pressão das autoridades angolanas continuou e as relações bilaterais mantiveram-se frias até 10 de Maio deste ano, data em que o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu transferir o processo de Manuel Vicente para Luanda. No dia seguinte, João Lourenço escrevia no Twitter: “Conversei na manhã de hoje com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa na sequência da decisão do Tribunal da Relação de Lisboa. Felicitámo-nos pelo feliz desfecho do caso e reiterámos a vontade de seguir em frente com a cooperação entre os nossos dois países.”

O próximo teste a esta reaproximação será dado com a visita oficial do primeiro-ministro, António Costa, a Angola, marcada para 17 e 18 de Setembro.

O poder que é político

Ao contrário do anterior poder angolano em Portugal, que se manifestava, sobretudo, pela componente dos investimentos realizados, o protagonizado por João Lourenço afirma-se pela vertente política. Através da Sonangol, o Estado angolano tem posições accionistas relevantes no BCP (19,49%) e Galp (esta indirecta de 15%), que podem ser usadas como armas diplomáticas. Mas o relacionamento com Portugal assenta em novas premissas.

O chefe de Estado angolano marcou pontos com o caso Manuel Vicente e tem dado sinais de que não olha para o relacionamento com Portugal como uma fatalidade histórica. Aproximou-se de outros países europeus, casos de França e Alemanha, que podem ajudar à recuperação económica de Angola e até mostrou, em Maio deste ano, a intenção de aderir à Commonwealth, a CPLP dos países anglófonos, tendo sido recebido de braços abertos pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros inglês. “É esplêndido que Angola queira entrar na Commonwealth. Devemos apreciar o empenho do Presidente Lourenço em fazer reformas de longo prazo, no seu ataque à corrupção e na melhoria dos direitos humanos”, escreveu Boris Johnson, que entretanto saiu do Executivo de Theresa May, no Twitter.

Quem precisa de quem?

João Lourenço quer uma relação bilateral baseada na reciprocidade e sabe que a importância de Angola para Portugal, tanto ao nível das exportações como dos expatriados, é uma circunstância que joga a seu favor. Ou seja, a mensagem subliminar é a de que Portugal precisa economicamente mais de Angola do que o inverso. Uma acção em que tem legitimidade reforçada ao contrário do seu antecessor, José Eduardo dos Santos, que estava fragilizado pelos seus telhados de vidro. João Lourenço tem legitimidade reforçada pelo facto de estar a fazer uma campanha de moralização da sociedade que tem sido enaltecida no panorama político europeu.

Em Novembro de 2017, o primeiro-ministro, António Costa, classificou o caso Manuel Vicente como o “único irritante que existia nas relações Portugal -Angola”. O “irritante” desapareceu e deu a João Lourenço um ascendente que ele vai utilizar na construção de um novo paradigma de relacionamento diplomático.

OS “INIMIGOS” DE JOÃO LOURENÇO

José Eduardo dos Santos – O antigo Presidente da República e ainda líder do MPLA, até 8 de Setembro, foi completamente surpreendido pela acção governativa de João Lourenço e as relações azedaram .

Isabel dos Santos – Tem sido o principal alvo de João Lourenço. Foi demitida da liderança da Sonangol, perdeu a concessão para a construção do porto do Dande e concessões de diamantes.

José Filomeno dos Santos – O filho de José Eduardo dos Santos foi afastado do Fundo Soberano de Angola, tendo sido arguido por peculato. Foi outro dos alvos do novo Presidente.

Valter Filipe – Foi um dos primeiros a ser exonerado por João Lourenço, que lhe fez duras críticas públicas sobre a forma como liderou o Banco Nacional de Angola. É arguido e não pode sair do país.

António José Maria ” Zé Maria”- General, era chefe da secreta militar e mesmo depois de João Lourenço ter sido eleito Presidente, afirmava só obedecer a Jesus Cristo e a José Eduardo dos Santos. Foi demitido.

Carlos Panzo- João Lourenço demitiu-o de secretário para os Assuntos Económicos devido a uma investigação feita pelas autoridades suíças que pode até ter efeitos penais. A PGR de Angola abriu um inquérito.

Virgílio de Fontes Pereira – Virgílio de Fontes Pereira e Jorge “Jú” Martins, membros do “bureau” político do MPLA opuseram-se a João Lourenço durante a sua travessia do deserto político. Essa hostilidade passada mantém-se.

OS “AMIGOS ” DE JOÃO LOURENÇO

Norberto dos Santos ” Kwata Kanawa”- O governador da província de Malanje é amigo de longa data de João Lourenço. Uma proximidade reforçada pelo facto de serem compadres.

Eugénio Laborinho – Foi escolhido por João Lourenço para liderar os destinos de Cabinda, a mais sensível de todas as províncias de Angola. Tem nomeado opositores para o governo provincial e recebe elogios por isso.

Mário António – É um aliado seguro no MPLA. José Eduardo dos Santos afastou-o de secretário para Informação do MPLA para atingir João Lourenço. Após congresso de 8 de Setembro tudo será diferente para Mário António.

Jorge Dombolo- É secretário do MPLA com o pelouro da área da organização, membro do “bureau” político e amigo de João Lourenço de longa data. Foram colegas no Instituto Industrial de Luanda.

Diamantino Pedro de Azevedo – É ministro dia Recursos Naturais e Petróleos e um dos governantes com mais influência e peso junto de João Lourenço, que lhe atribuiu uma pasta fundamental para o país .

OS “ALIADOS” DE JOÃO LOURENÇO

Manuel Domingos Vicente – Era como “irmão” de José Eduardo dos Santos, mas quem o defendeu de forma veemente do processo em Portugal foi João Lourenço. Manuel Vicente é agora um grande aliado do novo Presidente. Há quem arrisque que saia do congresso de 8 de Setembro com o cargo de vice-presidente do MPLA.

Carlos Saturnino – Foi secretário de Estado dos Petróleos durante dois meses . Logo a seguir João Lourenço escolheu-o para substituir Isabel dos Santos na empresa mais importante de Angola, a Sonangol.

Aldemiro Vaz da Conceição “AVC” – Foi um dos homens-fortes de José Eduardo dos Santos durante duas décadas. Queria reformar-se depois da saída de José Eduardo dos Santos da Presidência da República, mas João Lourenço nomeou-o director de Acção Psicológica e Informação da Casa de Segurança. Homem culto, discreto e inteligente, é ainda possuidor de informações tidas como relevantes e conhecedor dos meandros chamada “política palaciana”.

Ricardo Viegas D’Abreu – Foi secretário para os Assuntos Económicos do Presidente da República até Junho, mês em que foi nomeado para ministro dos Transportes, uma área sensível, sobretudo por causa da TAAG. Já foi vice-governador do BNA e também esteve como PCA do BPC, o maior banco público do país.

José de Lima Massano – Foi o gestor escolhido por João Lourenço para liderar o Banco Nacional de Angola, um lugar-chave para a recuperação da economia angolana e o controlo do movimento de divisas.

Nota : Os Mais Poderosos de 2018 do jornal Negócios entrou nesta segunda-feira com João Lourenço no Top 10. Dia 07 de Setembro será divulgado o líder da lista deste ano. Para já nos últimos 40 lugares, há nove empresários, oito políticos. Os advogados e banqueiros contam, cada, com sete membros e só existem quatro gestores e quatro membros ligados à regulação ou supervisão. Há também cinco políticos estrangeiros. Em 2015, a lista dos Mais Poderosos do Negócios incluía cinco angolanos : José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos, Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, Carlos Silva e Álvaro Sobrinho. O grande poder de então em Angola foi-se esfumando. João Lourenço é agora o senhor Todo Poderoso.

Fonte: Negócios.

One Comment

  1. Prezados Vivências Press,
    Continuam de parabéns! Vão em frente e sem olhar p trás q ali vem gente! Aproveito o ensejo p desejar-vos SS (Sucessos Sucessivos) nesta vossa carreira jornalística. E, olhem, podem contar comigo se precisarem de um orador e palestrantes profissional e convincente! À vossa disposição!
    Bem haja!

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