Notícias

Portuguesa foi morta em Moçambique por 483 dólares

o corpo de Inês Rodrigues Botas, a portuguesa de 28 anos que foi assassinada a 29 de dezembro em Moçambique, chegou esta quinta-feira a Portugal, permanecendo na igreja paroquial de Cortes, em Leiria, até às 11h de sexta-feira, 5 de janeiro, realizando-se em seguida as cerimónias fúnebres.

Antes da viagem para Portugal, na terça-feira, 2 de janeiro, decorreu uma missa de corpo presente na Sé Catedral da Beira, em Moçambique, com a participação de vários amigos da diretora financeira da empresa portuguesa Ferpinta, além de membros do governo provincial moçambicano, que mostraram profunda consternação pelo sucedido.

A jovem, natural de Leiria, trabalhava há pouco mais de um ano em Moçambique, depois de uma outra experiência profissional em Angola. Era solteira e vivia num condomínio fechado, relacionando-se sobretudo com os amigos portugueses. Foi o seu colega Romeu Fernando Rodrigues, responsável pela Ferpinta em Moçambique, que deu o alerta à polícia, na sexta-feira, estranhando a sua ausência desde a noite anterior e o facto de ter o telemóvel desligado. Os receios de rapto agudizaram-se quando localizaram o seu jipe abandonado, em frente ao hotel Embaixador, noutra zona da cidade.

A polícia atuou rapidamente, detendo em menos de 24 horas três homens, com idades entre os 21 e os 24 anos, ainda na posse do telemóvel e dos cartões de crédito da vítima. Perante as evidências, confessaram o crime, encontrando-se neste momento detidos e a aguardar julgamento. Dos seus interrogatórios – e de uma entrevista que um deles acabaria por dar, já na prisão, à televisão moçambicana -, é possível reconstituir o que aconteceu.

Inês Botas saiu do trabalho na quinta-feira passada e foi sozinha para o Clube Náutico da Beira, onde praticava regularmente exercício. Acabou por ser atraiçoada pelo seu personal trainer, que a abordou quando esta saía das instalações do clube, pelas 22h, e lhe pediu se poderia dar boleia a uns amigos até à cidade. Izaías Nicolau, de 21 anos, entrou então no jipe da sua cliente com Jonas Jacobe Moiana e Danilo Resende Lampeão, de 24 anos.

Pouco depois, os homens ameaçaram-na com uma arma falsa (um brinquedo de plástico), roubando-lhe a carteira e o telemóvel. Inicialmente, a intenção terá sido apenas a de a roubar mas, no calor do momento, algo terá mudado – e Izaías Nicolau ficou com receio das consequências do seu acto, uma vez que a vítima o conhecia.

Tal como confirmou a autópsia realizada, deram-lhe uma grande pancada na cabeça (o que lhe causou um traumatismo craniano) e, em seguida, ataram-lhe as mãos e os pés com uma corda. Depois atiraram o seu corpo ao rio Pongue, já no distrito do Dondo, a 70 quilómetros da Beira. Inês viria a morrer por afogamento, segundo os peritos de Medicina Legal. Ou seja, quando caiu ao rio, desamparada, ainda estava viva.

Os ladrões conseguiram levantar, em dois momentos, 29 mil meticais (cerca de 400 euros) com os cartões de crédito de Inês Botas, antes de serem detidos. Uma quantia irrisória pela qual a portuguesa perdeu a vida, mas que representa cerca de cinco ordenados mínimos naquele país africano.

Comunidade apreensiva
No dia seguinte, outra portuguesa seria também morta em Moçambique, durante um assalto. Maria Laura Pereira, de 72 anos, natural de Viseu, vivia na zona do Chimoio, em Manica, há mais de 40 anos, gerindo uma quinta agro-pecuária. Terá sido espancada pelo seu caseiro, entretanto também já detido pela polícia moçambicana.

Estas notícias deixam, como é natural, a comunidade portuguesa em Moçambique apreensiva, numa altura em que o país atravessa uma grave crise financeira, com os preços dos bens básicos, como o pão e os transportes (“chapas”), a subirem numa base quase diária, o que poderá levar ao aumento da criminalidade.

O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, confirma que “os trágicos acontecimentos que vitimaram duas cidadãs portuguesas residentes nas províncias de moçambicanas de Sofala e Manica tiveram motivações de natureza económica”, reforçando a ideia de que “a comunidade portuguesa residente em Moçambique encontra-se bem integrada e enraizada no país, sendo a sua presença valorizada tanto pelas populações locais, como pelas instituições e autoridades moçambicanas”.

Tal como outros portugueses ali residentes, Elmano Madaíl não crê que estes possam ter sido ataques deliberados ou direcionados para a comunidade portuguesa.

Fonte: Visão

Deixe o seu comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Botão Voltar ao Topo