
Andamos a fugir da dependência do petróleo (alguns de nós já propõem esta “fuga” há décadas) mas não podemos fugir da evolução dos seus preços. Todos os dias, sobretudo os que somos profissionais da economia, vamos varias vezes aos divulgadores de cotações. Esta semana começou com o barril do Brent (que serve de referência a quase todo o crude subsaariano) na bolsa e Londres acima dos 64 dólares US por barril, ganho superior a dois dólares sobre a sessão precedente. Motivos somados: príncipes milionários ou bilionários da Arábia Saudita presos (num dos hotéis mais caros de Riade) por corrupção, funcionamento do acordo OPEP-Nopep, stocks oscilantes nos USA e aumento do consumo em grandes economias, sintoma de recuperação. Nada disto mudou ontem terça feira, mas o mesmo tipo de petróleo veio para a faixa dos 63 dólares. Mudou um detalhe: o dólar valorizou-se no mercado de câmbios e é a moeda de referencia para o petróleo. Quando o dólar cai, os operadores sobem o valor do barril para recuperar em poder de compra. Quando sobe, muitas vezes fazem o inverso. Foi isso desta vez? Durante o resto da semana vamos ver. Alguns colegas referem que a tendência semanal pode incluir baixas na terça e na quarta, com altas na quinta e sexta, produzindo uma alta no conjunto semanal. Alguns otimistas – venezuelanos por exemplo – até acham que se pode chegar aos 70 dólares/barril.
Todo este quadro decorre enquanto Angola recebe uma missão do FMI, procura reescalonar a divida e prepara-se para ir ao mercado de capitais. Claro que quanto mais valer o petróleo mais facilidades o país encontrará nesta busca financeira vital.
Outro fator positivo é o sentimento geral de que o novo Presidente está empenhado em combater a corrupção, reduzir a concentração de grandes riquezas e fazer reformas conducentes á diversificação. Temos aqui uma adição de elementos suscetíveis de gerar o famoso clima de confiança, sem o qual nem sequer há economia, há apenas saltos desordenados a nível material.
Então, apareceu uma história para danificar o clima. Os “Paradise Papers” falam pela negativa do Fundo Soberano de Angola e, na Suiça, dão alto relevo ao facto, pois um dos gestores tem cidadania suíça, trabalha em território helvético e não é muito bem visto por lá. Quando se fala de dinheiro não é útil ser mal visto na Suiça.
Na balança, qual dos pesos vai ser mais forte? Para os títulos do Fundo é uma desgraça. Para as negociações com o FMI, pesará pouco, pois truques financeiros revelados pelos “Paradise Papers” há até no palácio real britânico e o FMI espera solução global. Que Angola esteja envolvida na sacanagem até ajuda a considerar o país como presente numa linha de altas jogadas financeiras.
Então, vamos lá ver se se mandam sinais positivos ao mercado mundial e à situação social interna. Essa soma é que torna menos tempestuoso o clima de confiança.