
As peças do dominó estão a mexer-se, e Isabel dos Santos, que admitiu esta semana a hipótese de uma “possível” candidatura à presidência de Angola, vai ficando mais isolada. Um dos pilares da estratégia de reestruturação da Sonangol desenhada sob a liderança de Isabel dos Santos na petrolífera, a Pricewaterhouse Coopers (PwC) iniciou o processo de afastamento e vai deixar de trabalhar com empresas controladas pela família do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
A questão é séria e delicada e levou mesmo um alto quadro da PwC de Londres a deslocar-se a Lisboa, esta semana, com a missão de tratar do dossier Isabel dos Santos, avança o semanário Expresso. A PwC tem sido, nos últimos anos, uma das principais auditoras e consultoras das empresas controladas por Isabel dos Santos ( foi consultora e auditora da Sonangol, onde entre 2016 e 2017 teve uma equipa de mais de 50 pessoas), trabalhava com o Banco de Fomento de Angola (BFA) e chegou a auditar a Unitel; em Portugal, o envolvimento da PwC tem sido grande na Efacec, cuja compra assessorou.
Ciente de que o tema Sonangol é um dos principais fios do novelo da investigação aos negócios de Isabel dos Santos em Angola, a Pwc deu esta semana o primeiro passo para se afastar de uma batalha que promete pôr a nu uma complexa teia de negócios opacos, operações em offshores e conflitos de interesse. Ao Expresso, a PwC esclarece que avançou com uma investigação interna para escrutinar a sua actuação na relação comercial com as empresas ligadas a Isabel dos Santos.
“Perante as recentes alegações, iniciou de imediato uma investigação interna, procurando apurar com máximo rigor todos os factos e concluir este processo. A PwC não hesitará em tomar as medidas necessárias para garantir os mais elevados padrões de comportamento ético e profissional”, disse fonte oficial da auditora ao semanário Expresso. E prosseguiu:
“Adicionalmente, foram tomadas as acções necessárias para pôr fim à relação profissional existente com entidades controladas por membros da família de [José Eduardo] dos Santos”.
A PwC ainda tem pequenos trabalhos em curso na Sonangol, um sinal de que a actual administração, não cortou relações totalmente e reconhece valor ao trabalho desenvolvido pelos quadros desta big four. A PwC não foi ainda chamada para ser ouvida por supervisores em Angola, o que poderá acontecer por causa da Sonangol, que a própria Isabel dos Santos classifica como um dos pontos nevrálgicos da corrupção em Angola.
O estreitar dos laços e a grande aproximação da PwC aos negócios de Isabel dos Santos fez-se via Mário Leite da Silva, o gestor-chave dos negócios da empresária em Angola e Portugal. Mário Silva começou a sua carreira na PwC no Porto, na área da auditoria, e nunca perdeu a ligação. A certa altura, a PwC passou inclusive a ser uma das fontes privilegiadas de apoio quer na auditoria quer na consultoria.
O sócio que mais tem trabalhado com Mário Silva é Ivo Farias, que está na empresa desde 1997. Ivo Farias foi um grande apoio de Mário Silva na reestruturação da Efacec, onde a equipa de gestão foi escolhida pelo braço-direito de Isabel dos Santos, que tem uma forte ligação ao Porto, onde estudou Economia e vive regularmente a sua família.
Foi na PwC que Mário Silva, presidente da Santoro Financial, quartel-general para os negócios da investidora em Portugal, foi buscar Vasco Rites, homem que se tornou fundamental nos negócios pessoais de Isabel dos Santos em Angola. E que, segundo o Observador, já saiu do universo dos negócios dela e está de relações cortadas com Mário Silva.
A auditora PwC é a primeira a afastar-se publicamente de Isabel dos Santos , mas não é a única a querer cortar a ligação aos negócios da herdeira de José Eduardo dos Santos. Algumas pessoas com quem ela tem trabalhado estão a mostrar sinais de inquietação. E as empresas em que a empresária angolana detém participações indirectas ou controla o capital, como é o caso da NOS, da Efacec, do Eurobic ou da Galp, mantêm um silêncio prudente.
Fonte : Expresso.