Eugénio Costa AlmeidaOpinião

O primeiro ano da Presidência de João Lourenço

O texto que segue, é uma súmula do meu depoimento que fiz ao jornalista José Sousa Dias, da Agência Lusa, sobre o primeiro aniversário da Presidência de João Lourenço.

Por esse facto, e sem fugir ao que lhe transmiti, deixo-vos aqui a minhas ideias principais – e outras que, na altura não produzi –, dado que, a maioria, se não mesmo a totalidade dos leitores não têm acesso ao mesmo, salvo o que foi reproduzido, em análise sintetizada, juntamente com a análise de Jonuel Gonçalves, pelos diferentes órgão de informação, como a RTP e a TSF-Rádio-Notícias, por exemplo.

No depoimento de elaborei para a LUSA, escrevi, entre outros factos, que por altura da eleição de João Lourenço prognostiquei que o recém-eleito João Lourenço poderia ser, por aquilo que defendia, um possível Gorbatchev.

Recordo que, por quando da sua passagem por Espanha, antes da tomada de posse e perante uma questão que lhe foi colocada, salvo erro, pelo El País, João Lourenço, preferia ser visto não como um futuro Gorbatchev angolano, mas como um novo Deng Xiaoping, porque desejava abrir o sistema e combater tudo o que poderia manter o status quo como estava.

Na altura, e naturalmente, houve alguma incredulidade nessa vontade, que parecia ser legítima. Eu estava entre os que duvidavam, dado o que estava enraizado e porque iria ter de governar com umaparelho partidário, ainda sob a liderança do antigo Presidente da República e que, como se sabe e pelos seus estatutos, é quem determina a linha política do Governo.

Ora, a verdade seja dita e isso é de sublinhar, João Lourenço não só conseguiu libertar-se dessas “algemas” como foi, claramente, mais longe. E os recentes acontecimentos isso o mostram!

Tem alternado uma governança discreta, num ponto de vista meramente político, com uma governação de impacto em questões financeira; embora, esta é a minha opinião, pudesse ter ido mais longe, nomeadamente, naquele que foi o seu maior momento: a questão do retorno de capitais.

Ainda assim, o impacto que isto teve, foi o início de um pequeno maremoto na vida política interna do MPLA, em alguns – não poucos – casos.

E, voltando a uma observação anterior, sobre os acontecimentos recentes, este caso do retorno dos capitais, face às detenções ocorridos noas últimas semanas, levam-me a esperar que os arguidos mais que mantê-los detidos, os obriguem – caso se comprove a sua culpabilidade, ou seja, caso as acusações que sobre eles pendem passem a trânsito julgado – mais do que detê-los, a devolver os fundo que possam ter desviado dos cofres do Estado Angolano.

Mas, também teve e tem tido, à sua maneira e discretamente, impacto político face e dentro da Oposição. Por exemplo, o retorno do corpo de general Ben Ben (e, já agora, como referi, recentemente, numa conversa pessoal, mas não particularizada – mais em tom de desabafo e provocatório – sobre Savimbi, que, provavelmente, desconfio, deverá ver o seu corpo ser entregue à família e à UNITA, a 22 de Fevereiro, pelo aniversário da sua morte); pode-se dizer, que adormeceu, ainda mais e se isso ainda era possível a Oposição. Ou parte dela.

Por mim e pelo que a Oposição tem mostrado – e ressalve-se, a comunicação social oficial tem dado mais coberturas a actividades desta – uma enorme inoperância. Mesmo na questão das autárquicas, são conversas e propostas soltas…

Todavia, se a nível político e financeira não incluo a devalorização contínua e continuada do Kwanza houve alterações e alguns impactos assinaláveis, a nível económico, ainda que continuemos dependentes de uma monoeconomia baseada, essencialmente, na exploração e exportação do petróleo. Já houve tempo de começar a procurar uma maior diversificação da nossa economia.

Compreendo, por exemplo, que a China continue a ser – até quando? – o nosso maior parceiro económico, apesar de ser vontade de João Lourenço diversificar a nossa economia por outros parceiros como já tem procurado fazer, reincluindo, de novo, Portugal. Mas manter a China como principal parceiro financeiro e nos endividar junto desta ainda mais, não me parece boa medida. É que, como já escrevi, não há almoços grátis…

E o recente caso da Zâmbia só nos trás ainda mais preocupações…

O The Economist ainda há poucos alertou para isso. Mas como também já escrevi, Roma e Pavia não se fizeram num dia, não podemos esperar que o Presidente faça num ano, aquilo que o antecessor não fez – ou não conseguiu, ou não quis –em 38 anos.

Porque, realmente, e voltando ao adágio latino, Roma e Pavia não se fizeram num dia, vamos aguardar o(s) próximo (s) ano (s); até porque não esqueçamo que uma legislatura não é só de um ano, mas de cerca de 5 anos. Uma das medidas que se aguarda com expectativa, prende-se com as eleições regionais. Outra, como angolano na Diásporacontinuamos a aguardar – até porque a Constituição nada diz em contrário – que possamos fazer uso de um direito que nos tem sido cortado: o direito de voto.

Finalmente, uma das coisas que Deng Xiaoping fez – e se o Presidente João Lourenço continuar a ter este estadista chinês como “tutor” – foi rever a Constituição de modo a que a CRA mais se adeque à nossa verdadeira realidade. Até para dar mais força à Justiça que, ultimamente, entrou nos escaparates diários da comunicação social.

Ele bem avisou antes e depois das eleições que a corrupção tinha de ser forte e claramente combatida. Recordemos uma frase que, ultimamente, e nas páginas sociais, tem sido reproduzida: «Ninguém é tão rico e poderoso ao ponto de não ser punido. E ninguém é tão pobre ao ponto de não merecer ser protegido!» (Presidente João Lourenço, na sua página de Twitter, há um ano, precisamente: https://twitter.com/cdajoaolourenco/status/912729586148003840)

Veremos até onde João Lourenço irá ou até onde o deixarão ir

*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**

** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado

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