Maka à Quarta-Feira no Palácio da Cidade Alta

“O Presidente da República recebeu nesta terça-feira, no Palácio Presidencial da Cidade Alta, personalidades da sociedade civil, com quem discutiu questões da actualidade. Com este gesto, João Lourenço deu seguimento à estratégia de estender o diálogo a organizações da sociedade civil que há muito reclamam o direito de serem ouvidas e de contribuir com os seus pontos de vista e opiniões”, escrevia o Jornal de Angola na sua edição de quarta-feira, 5 de Dezembro.
O anúncio deste encontro gerou uma grande expectativa e ansiedade entre os angolanos, afinal de contas, tratava-se de um convite do actual chefe do Estado angolano, João Lourenço, a um grupo de líderes de várias organizações da sociedade civil, muitos deles, pessoas que num passado muito recente, eram chamados “revus”, “elementos subversivos e hostis ao regime” ou até mesmo “activistas antigovernamentais”. Pessoas que tinham o acesso vedado a certos espaços e instituições públicas, proibidas de conceder notícias ou de serem “noticiados”. Tal citação ou exemplo, tendo os seus nomes como referência, poderia ser considerada blasfémia ou heresia. E hoje, como que com à velocidade da luz ou de um cometa, recebiam o convite para serem recebidos em audiência colectiva no Palácio da Cidade Alta. Certamente um privilégio que muitos que gastaram a sua verborreia e tempo em intrigas políticas, maquinações diplomáticas, verborreia em artigos, análises e comentários exigindo a sua “decapitação pública” até hoje não tiveram.
E lá chegava o dia: terça-feira, 4 de Dezembro. As redacções atentas, escribas ansiosos e de pena afiada, teclados num autêntico frenesim. O encontro na Cidade Alta estava a acontecer e era momento de confirmar o momentum, confirmar o programa e a agenda, alinhar a estratégia e confirmar as presenças. Mas perante todas as presenças confirmadas, uma ausência era registada: Rafael Marques não estava na sala de audiências. Nem uma sombra do homem do Maka Angola? Maka grande no Palácio? Muitas perguntas no ar e poucas respostas em terra. E finalmente, a resposta chegava pelo próprio punho de Rafael Marques. Era o “misterioso desaparecido” a explicar no seu site Maka Angola as razões do seu “sumiço palaciano”. “Fui impedido de entrar no Palácio como integrante da delegação da sociedade civil”, escrevia para espanto geral. O convidado havia sido “desconvidado” naquela hora e momento. Como foi possível ter sido convidado para um encontro e no local ter sido “desconvidado”? Ou melhor, não ter o nome na lista? Excesso de zelo? Falha protocolar? Problemas de comunicação? Ordens superiores? Indisposição momentânea do anfitrião em recebê-lo? Ou o incidente terá sido premeditado para depois se criar a tal audiência privada? Interessava mais ouvir Rafael Marques em audiência colectiva ou numa audiência privada? Outra maka mais!
O assumir o erro, o pedido de desculpas por parte do gabinete do Presidente da República vinha acompanhado de um convite: Rafael Marques seria recebido em audiência privada, às 9h do dia seguinte. O jornalista e activista ficava assim com o “exclusivo” de estar frente a frente com João Lourenço e, assim, abordar com tempo e profundidade dentre outros temas, o tal “dossiê Marimbondo” onde constam várias denúncias sobre corrupção envolvendo influentes figuras angolanas. A sua presença numa audiência privada acaba por ter uma forte projecção mediática nacional e internacional, é positivo para a imagem de João Lourenço e reafirma a sua estratégia de reforço do diálogo e do exercício democrático. A presença de Rafael a sós com João Lourenço tem impacto mediático no país e no estrangeiro. João Lourenço e a sua equipa de comunicação sabem disso e vão capitalizar ao máximo este momento. A imagem de um Rafael Marques rodeado de jornalistas e respectivos microfones é reveladora de um novo momento: um Rafael antes sem espaço na imprensa nacional, era agora procurado por quem durante anos não lhe deu espaço e o erradicou.
Se José Eduardo dos Santos tinha a opinião de que Rafael Marques com a sua acção fazia um “activismo antigovernamental” e “sujava” a imagem da sua governação no exterior, João Lourenço entende que Rafael Marques com a sua influência e prestígio em determinados meios políticos, económicos, académicos e diplomáticos internacionais pode ajudar a “limpar” a imagem do país e a promover os novos tempos e a nova governação em Angola. João Lourenço pode ter em Rafael Marques o seu novo Embaixador Itinerante, uma voz que fale ao mundo da estratégia de combate à corrupção e nepotismo de João Lourenço. Tudo isso pode ter sido discutido, acertado e coordenado neste encontro que eu aqui ouso chamar Maka à Quarta-Feira no Palácio da Cidade Alta. O activista que José Eduardo dos Santos perseguiu é o mesmo que João Lourenço convidou a entrar na sua residência pela porta da frente. Talvez por o encontro ter sido num dia de Maka à Quarta-Feira na União dos Escritores Angolanos e também porque o encontro do homem do Maka Angola com João Lourenço ter sido antecedido de um incidente também ele makeiro. Que as “notícias do palácio” registem este encontro com impacto e “sabor” de Maka à Quarta-Feira. O dia em que o homem do Maka Angola se tornou parceiro de João Lourenço no combate às makas e os actuais makeiros que afectam a nação.
“O encontro correu muito bem. O Presidente da República foi simpático e aberto. Falámos sobre direitos humanos, corrupção e moralização da sociedade”, assim falou Rafael Marques aos jornalistas após a audiência privada. As bases da nova cooperação estão lançadas, vamos aguardar os resultados da parceria desta dupla João Lourenço e Rafael Marques e as mexidas que farão no ninho dos Marimbondos, que assistem atentos e pressentem estar iminente um feroz ataque à escala internacional. Que venham soluções para as makas que estamos com elas.
Eu já aventei essa hipótese, a de um encontro privado deliberado, para não haver muitos ouvidos..