Cronistas
Quedas dos Bem casados e a sua lenda

Naquela sanzala havia uma jovem muito alegre e alegria do seu povo.
Miége, nome da sua graça, verdadeiro orgulho daquele povo, onde a vida transcorria natural, sem problemas de maior: – cultivar as suas lavras, ir a caça, bailar ao son do batuque, colher a cera e o mel das colmeias de Jínhuque, na mata ao redor.
Era da linhagem dos Bondos, raça tranquila a longos anos passados, naquelas terras; mas quando entravam em guerra, pareciam marimbondos assanhados.
Mais além, um pouco além, do outro lado da mata, habitava uma outra raça: – dos Songos, povo altivo, forte, impulsivo, cheio de génio e muita coragem.
Seu rei, jovem forte, corpo de atleta, brandia sem grande custo, tanto a lança como a zagaia.
Cubango, de sua graça, certo dia pegou na sua lança e foi caçar um veado. Atravessando a mata, quis o destino que desvendasse o segredo de Miége, que tranquilamente tomava o seu banho… Cubango ficou pasmado ante aquela beleza em flor, trespassado pelas seta do amor ficou….
Estas coisas do coração são difíceis de entender, torvelinho ou turbilhão a quem tenha de as viver.
Miége também gostou do moço, era mesmo de gostar, o seu coração alvoraçado, pulou forte igualmente por Cubango.
Estas coisas do coração são difíceis de entender, torvelinho ou turbilhão a quem tenha de as viver.
Miége também gostou do moço, era mesmo de gostar, o seu coração alvoraçado, pulou forte igualmente por Cubango.
Mas quando este amor transbordou e deixou de ser segredo, na sanzala perpassou um arrepio de medo…
Mulher Bondo e homem Songo, coisas opostas na vida: – ódios de tribo, tão longos e violentos existiam entre as duas tribos.
Os mais velhos reuniram e chamaram Miége.
– Miége, que fizeste?
Esqueceste as leis antigas dos nossos antepassados e queres revoltar os seus espíritos contra nós ?
Mas eu não fiz mal nenhum…. Apenas amo Cubango…
Cubango, o rei dos Songos ?… Nosso pior inimigo ?
Mas ele quer paz.
Nunca… toda a maldição dos que morreram cairá sobre o nosso povo. Melhor será que morras a ser contaminada pelo calor inimigo.
E tendes coragem para me matar? Ainda que o façam ficarei na terra até aos fins dos tempos.
Seja…morrerás hoje mesmo… agora mesmo… para salvação de todos nós.
Naquela hora mataram Miége, a meiga criatura que foi chamada de pecadora. Mas no lugar onde caiu uma fonte se abriu e jorrou água da terra, se fez fio, depois regato correndo no solo e engrossando sempre mais.
Entretanto o vento levou, em som de batuque, a triste mensagem a Cubango, enquanto nos Bondos o luto fez morada.
E Cubango falou ao seu povo.
Reuni-vis aqui, valentes guerreiros para vos comunicar que, mais uma vez, os Bondos nos ofenderam… e esta ofensa ao vosso rei só pode ser cobrada com a morte. A morte dos Bondos.
Mas, dizei-me—interrompeu um velho—qual foi a ofensa que nos fizeram ?
Pois não sabeis? Vi Miége, a mais bela das mulheres que já vi e gostei dela. Queriamos a paz… mas eles mataram-na só porque me amava, a mim, o vosso rei, um Songo…
E achas que por uma ofensa ao teu coração se deve levar todo o povo à guerra?
Morreriamos muitos por uma só mulher… e tú tens entre as mulheres da nossa raça, uma que certamente te agradará.
Não mais nenhuma mulher antes que Miége seja vingada.
Pois que assim seja. Vinga-a tú, mas não peças ao teu povo que morra por tua causa.
E assim abandonais o vosso rei ? Assim o deixais ao sabor da morte?
Poderão todos os Bondos esfacelar as tuas carnes… se isso acontecer nós te vingaremos… mas por um mal do teu coração não é justo que o teu povo morra.
Pois bem… se me negais o vosso apoio não mais serei o vosso rei, nem a minha zagaia será mais ferro que vos dê carne. Morrerá comigo.
E assim foi, Abandonado pelos seus, Cubango, espetou em si a zagaia, caindo morto no chão. E ali mesmo outra fonte se abriu e jorrou água, que se fez fio e depois regato, e correu na terra engrossando sempre mais.
Os dois regatos foram serpenteando a terra em busca um do outro até se encontrarem, e encontraram-se no alto duma falésia, abraçaram-se e despenharam-se pela falésia abaixo numa união de água e abraço eterno.
E é por isso, que ainda hoje as quedas se chamam dos Bem Casados.
(deixando a lenda, na verdade este dois rios cruzam-se no alto da falésia, juntam-se e despenham-se pela falésia abaixo dando origem as quedas)