Recados presidenciais em editorial no Jornal de Angola

Os presidentes da República, João Lourenço, e o do MPLA, José Eduardo dos Santos, querem que o país progrida e não será uma ou outra divergência pontual que irá alterar um estado de confiança que se vai vivendo em Angola nestes tempos de esperança.
No seu editorial de segunda-feira, 1. de janeiro, intitulado “Testemunho”, o estatal Jornal de Angola refere que 2018 traz um conjunto de desafios que cada um coloca a si mesmo no já tradicional balanço do ano findo e do que agora começa.
Acrescenta que, mais que os desejos individuais, há a sua soma que os torna num desafio do país, no exacto momento que o virar de página do calendário aponta para os primeiros 100 dias da actual governação, eleita democraticamente em Agosto de 2017, marcando o início de um novo ciclo político em Angola.
No editorial, o Jornal de Angola sublinha que a mudança foi o facto do ano e que fez renascer a esperança do povo, que hoje encara o futuro com mais optimismo, mesmo sabendo que o que vem pela frente (em 2018) não será fácil.
Lembra palavras do Vice-presidente da República, ao observar que “numa prova de estafeta, quem recebe o testemunho não pode parar”, pelo que as analogias do desporto com a política não são de hoje e, por isso, vale recordar que as corridas de estafeta são, por norma, de velocidade. O diário ressalta que é necessário acelerar as reformas, porque o mandato é de apenas cinco anos, que passam num instante.
Para o Jornal de Angola, as estafetas não são como as maratonas, como alguns pensam e defendem, onde as realizações vão ficando nas gavetas do esquecimento, sem responsabilização pelos incumprimentos e pelas colossais derrapagens que originam muitos dos actuais endinheirados.
Nas provas de estafeta, às vezes, quem entrega o testemunho vem atrasado e quem recebe tem de acelerar para recuperar os lugares perdidos. Ao enfatizar a importância de José Eduardo dos Santos, enquanto presidente do MPLA, Bornito de Sousa, mais não fez que dissipar dúvidas sobre as relações entre o Governo e o partido que o apoia.
O periódico aponta que tem havido, ao longo deste período, em alguns sectores, certa especulação em torno de uma intervenção silenciosa do presidente do MPLA sobre a forma como algumas decisões que o actual inquilino do Palácio da Cidade Alta tem tomado, e que de certa forma surpreenderam o cidadão comum, dando a João Lourenço uma confortável almofada de popularidade.
De acordo com este diário, não há lugar para o rufar de tambores nem para a contagem de espingardas, porque a “guerra” interna pode não passar de um desejo externo. José Eduardo dos Santos e João Lourenço querem que o País progrida, e não será uma ou outra divergência pontual que irá alterar um estado de confiança que se vai vivendo em Angola nestes tempos que são de esperança.
O diário considera normal que nem todos alinhem com a velocidade das mudanças, mas isso não pode significar que se transformem em forças de bloqueio, porque, em última instância, perdem todos, os angolanos e o próprio partido no poder.
O Jornal de Angola reforça no seu editorial que até a oposição e políticos desavindos convergem estar-se a viver um novo tempo, só possível pelo estado de graça que João Lourenço tem vindo a conquistar ao anunciar medidas para combater velhas práticas, acabar com alguns monopólios e oligopólios que se instalaram e que só beneficiavam selectos privilegiados.
Hoje mesmo, prossegue o jornal, a Televisão Pública de Angola (TPA) reassume o controlo do seu canal 2, depois de anos de gestão privada, em que, como em muitas parcerias semelhantes, os lucros iam para o privado e os prejuízos para o público.
Como o próprio Presidente da República reconhece, três meses não é tempo para balanços e tantos elogios, mas a verdade é que nesse curto espaço a esperança está a ser resgatada não só entre os angolanos, mas também do estrangeiro, onde a percepção de mudança tem despertado interesses bloqueados pela má reputação e práticas de um passado recente.
São cada vez mais os investidores que voltam a olhar para Angola e isso é fundamental para o crescimento e desenvolvimento, já que não vai ser o Estado a garantir os milhões de emprego que os angolanos, sobretudo jovens, tanto precisam com a transferência de know-how e a melhoria do ensino a todos os níveis.
O jornal afirma que está aberto um melhor ambiente de negócios, o que facilita o acesso aos mercados financeiros internacionais em condições mais competitivas. Considera, por outro lado, que a supressão de vistos de entrada e a facilitação na sua atribuição são peças importantes da estratégia de captação de investidores, dos pequenos aos médios, às grandes multinacionais para que o objectivo da diversificação da economia seja mais efectivo.
Lembra que foi já anunciado que, a partir deste mês, a cruzada contra a impunidade vai conhecer novos capítulos, a começar pela moratória para as fortunas angolanas no exterior regressarem livremente ao país, sob pena de, depois, ou serem repatriadas coercivamente ou confiscadas pelos países-cofre.
Por isso, reafirma o matutino, trata-se de acções para moralização da sociedade e melhoria da vida dos cidadãos para que, quando se chegar ao final de 2018, não se fique pelos lugares comuns dos balanços positivos, mas que se sinta, efectivamente, que a vida mudou para todos.
Apela igualmente que, nesse esforço, é fundamental a participação de todos e cada um, incluindo os quadros na diáspora, muitas vezes esquecidos, mas que podem ajudar nas várias áreas do saber, do mesmo modo que a indispensável imigração legal, não para abrir buracos nas vias, mas de qualidade técnica e para transferência de conhecimento, sem essa de vir roubar os lugares dos nacionais.
Avança que 2018 será um ano de esperanças renovadas, mas de dificuldades para atenuar os desequilíbrios macro-económicos, diminuir o elevado endividamento e dar o real valor à moeda nacional que não pode seguir o curso proteccionista de valorização administrativa, que apenas serve para que meia dúzia de privilegiados compre divisas a um câmbio barato para depois vender produtos a preços especulativos.
No mesmo editorial, o jornal diz que, politicamente, 2018 deverá ser também o ano da retirada da vida política activa de José Eduardo dos Santos, caso se concretize o seu desejo anunciado ao país e que já se iniciou com a não recandidatura a Presidente da República.
Em conclusão, o Jornal de Angola considera que o testemunho está agora noutras mãos e há que acelerar, porque o povo tem pressa e as soluções para os problemas não podem esperar.
Fonte: Angola21