Eugénio Costa AlmeidaOpinião

Reflexões I: Savimbi, sim, mas não; fica a questão!

Em inícios de Setembro, o Presidente João Lourenço, e depois de uma conversa havida com Isaías Samakuva, actual líder da UNITA, em Agosto e reafirmado pelo Ministério do Interior, reiterou aos filhos de Jonas Savimbi, que a entrega do corpo de Savimbi à família e ao partido era uma possibilidade viável, visando um enterro digno ao antigo militante número um e fundador da UNITA. Foi um tilintar de sinetas: uns que aprovaram, outros que sentiram um ressurgir do diabo; e, outros, onde me incluo, expectantes.

Em qualquer dos casos a data da possível exumação do corpo de Savimbi ficou em suspenso, ainda que fosse possível, em 2018. Só que perto do final 2018, Alcides Sakala, enquanto porta-voz da UNITA, afirmou que devido ás discussões entre o partido e o Governo, para a definição de um calendário para a operação de exumação, no âmbito das conversas entre as duas comissões que analisam e tratam desta matéria só em 2019 é que o corpo poderia ser exumado.

E isso, seria reafirmado, em finais de Dezembro passado, por João Lourenço quando deixou implícito que a demora da exumação de Savimbi estava dependente mais do que a UNITA ainda não teria feito, do que dos planos da família; porque por parte do Governo a disponibilidade para entregar o corpo era total…

Recorde-se que a UNITA, em meados do primeiro semestre de 2014, chegou a criar uma comissão para tratar do processo de exumação dos restos mortais de Savimbi, que, como se sabe, estará sepultado no cemitério de Luena, província do Moxico, para que fosse possível a trasladação para o cemitério da família, situado na aldeia de Lopitanga, município do Andulo, na província do Bié.

Ora, perante este cenário de adiamento, isso fez-me pensar em duas importantes datas para essa entrega: 22 de Fevereiro ou 4 de Abril. Só que a primeira, embora compreensível, data da sua morte, ou por isso mesmo, poderia ser pouco oportuna; a segunda, seria o reafirmar e solidificar o Dia da Paz, da Reconciliação total da Família Angolana, com o enterro definitivo das makas que ainda haja – há – pelo ar.

Só que, há dois dias, o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente João Lourenço, General Pedro Sebastião, creio que em conversa com a TPA, terá declarado, ou reafirmado, que as exéquias de Savimbi seriam este ano de 2019, mas porque nunca pertenceu a um executivo nem era membro de executivo à data da sua morte, não teria honras de Estado, durante a trasladação do seu corpo para o local definitivo e público. Compreensível.

Tão compreensível que até a UNITA considera que esta não honraria é a melhor opção por que o Governo pode optar e que 2019 será consagrado a Savimbi. E o «Galo Negro» vai mais longe, apresenta como possíveis datas do funeral entre Maio e Outubro de 2019. Uma das possíveis razões seria a necessidade de confirmar testes de DNA do corpo de Savimbi(?) como refere o portal da Deutsche Welle, de hoje. Só uma pergunta, as reuniões que têm ocorrido ainda não trataram de confirmar isso) Porquê só após a exumação? É um manter de dúvidas pouco cordato e que acarreta suspeições…

Mas, consta por algumas páginas na Internet – e em algumas páginas sociais, mesmo entre aqueles que veem no debate sobre Savimbi, um reaparecimento do diabo, do terrorista(?) – que apesar de não ter honras de Estado, Savimbi, como antigo líder de um movimento nacionalista, como um líder que apoiou e incentivou os seus milicianos das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA – braço armado da UNITA) a integrarem as Forças Armadas de Angola (FAA), porque detinha, enquanto chefe militar das FALA o título de Marechal – que não existe nas FAA –, deverá ser enterrado com honras militares. Uma vez mais, compreensível e de sublinhar.

Está em causa um enterrar – mas não esquecer, porque a História está para nos recordar sempre – de todo um passado de conflito estúpido por interferência de terceiros e por interesses políticos onde o primado do eu – em todos – se sobrepôs à principal prioridade: o Povo.

E, sublinho, este reafirmar de Reconciliação total da Família Angolana deve ter também em conta outros casos, como o 27 de Maio de 1977, que já começa a ser, abertamente falado e discutido; recorde-se a posição do Presidente João Lourenço na recente visita a Portugal quando face ao pedido de uma das órfãs do 27M, Ulika Coelho, não só permitiu que ela apresentasse a questão, embora não tenha deixado ler um poema de seu pai como desejava fazer – estava numa conferência de imprensa e não num debate público – como sublinhou que esta era uma matéria que deveria ser tratada, recordando as palavras do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, quando, em declarações à RNA, reconheceu perante o Parlamento, “ter havido excessos por parte do governo naquela altura”, sublinhando, ainda, João Lourenço, que no Governo “abertos ao diálogo” visando poder “reparar as feridas profundas que ficaram nos corações de muitas famílias” por causa destes “tristes acontecimentos” e haver “intenção de devolver os restos mortais das vítimas”.

Perante estes factos todos, e tendo em conta a Reconciliação definitiva, sabendo-se que é intenção do Governo mandar edificar um panteão para onde serão trasladados, por certo, todos aquela que, de uma forma ou outra, muito contribuíram para a edificação de um grandioso e sólido edifício chamado Angola, propunha que os primeiros depositados fossem aqueles que discutira e assinara a independência de Angola, em Alvor: António Agostinho Neto, Holden “Guilmor” Roberto e Jonas Malheiro Savimbi.

Era, ou seria, o fecho de um ciclo histórico e início, real e efectivo, de uma nova etapa nacional!

*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e investigação para Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**

** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado

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