Diversidades em África

O ideal pan-africanista de meados do século XX – que teve em Nkrumah o seu expoente político – foi extremamente mobilizador na luta contra as várias dominações coloniais então existentes, fazendo esquecer as diferenças entre regiões e povos de África e dentro de cada país (recorde-se que os futuros estados nasceram em territórios cuja delimitação de fronteiras foi feita pelas potências coloniais na célebre conferência de 1885 em Berlim em que elas repartiram entre si o continente africano).
Contudo a África sempre foi diversa, na sua geografia, nas suas gentes e respectivos percursos históricos, quer na sua própria evolução, quer em resultado de interferência externa. Grandes migrações de populações atravessaram extensas regiões para se fixar bem longe da sua origem; grandes reinos africanos se formaram e se expandiram sobre outros; extensas rotas comerciais cruzaram o continente; vastas regiões sofreram invasões que alteraram a composição populacional e as religiões autóctones (veja-se as invasões árabes no norte de África e a sua islamização que depois se expandiu, veja-se a ocupação colonial europeia; o tráfico de escravos desde o que existia em direcção ao Médio Oriente até ao que levou milhões de africanos negros para as Américas, desestruturando vastas regiões do continente). Também, como resultado da colonização, surgiram elites inseridas no sistema capitalista, que, conforme, os países tinham características próprias (mais ou menos ligadas à sua origem étnica, mais ou menos urbanas, mais ou menos miscigenadas biológica e culturalmente).
Mas, tal como em outros continentes, África também saiu do seu território para influenciar outros. Cartago disputou ao império romano a supremacia no Mediterrâneo, o império Egípcio impôs-se na zona mediterrânica e no Médio Oriente. Por outro lado, os milhões de africanos que, através do tráfico esclavagista, foram levados para o continente americano, aí criaram uma cultura baseada nas suas raízes que, hoje, sob múltiplas formas, é uma das maiores riquezas de quase todos os países centro e sul americanos e dos próprios Estados Unidos da América. Parte dessa cultura volta, nesta época global, a África (sobretudo na música), do mesmo modo que a variada e riquíssima música africana acultura hoje o mundo.
Fora do nosso continente, África é quase sempre vista como um todo homogéneo sem diferenciações nem diferenças. E assim nela podem caber todos os epítetos conforme o ponto de vista ideológico de quem se pronuncia: África portentosa, África miserável, África de progresso, África incapaz de acompanhar os outros continentes, etc. etc. (normalmente predominam as opiniões pejorativas).
Mas sucede também que muitos e muitos africanos encaram África como um todo homogéneo e não veem ou negam-se a ver a diversidade existente no continente, do mesmo modo que se recusam a encarar como é diverso o seu país ou diferente ele é dos outros países africanos.
Na base desta atitude, estão muitas vezes motivos ideológicos na procura de uma identidade universal africana que, assim, exclua particularidades e seja suporte de certas legitimidades.
Todavia, temos que lidar com a realidade e, no caso concreto de África e de Angola, ambas são diversas e ricas na sua diversidade. Ter em conta este facto, ajuda a construir o caminho do progresso.