Rescova e a Res Publica

Rigor e eficiência na gestão da coisa pública é um assunto que integra grande parte do nosso discurso político mas sem muitos resultados efectivos. São discursos sempre muito bem elaborados a exigir rigor na gestão do dinheiro público, mas, sem aplicação prática, é muito redundante e deixa sempre os cidadãos com uma pulga atrás da orelha. A ideia de que os gestores públicos são, em geral, corruptos e que ocupam os cargos em benefício próprio criou entre os cidadãos um ambiente de desconfiança em relação ao discurso político.
As sociedades têm dinâmicas próprias e às quais dificilmente se consegue fazer frente, estando os cidadãos cansados de discursos populistas, propagandistas e demagógicos. Cansaram-se das dissertações sem apelo, sem empatia, sem alma, sem esperança, dos discursos com falhas do passado, sem estratégias para o presente e visão para o futuro.
O saque dos recursos públicos para benefícios pessoais, por parte dos gestores da coisa pública, foi durante muito tempo uma prática comum e reiterada. Para um País ainda carente de uma administração pública eficiente, eficaz e produtora de resultados é realmente surpreendente ouvir gestores públicos entrarem em pormenores sobre os valores aplicados nas mais variadas tarefas. Por isso, foi surpreendente e quiçá até inédito quando o governador da província de Luanda, Sérgio Luther Rescova anunciou durante a reinauguração da escola Angola e Cuba que o seu executivo terá poupado cerca de 500 milhões de kwanzas relativamente ao orçamento inicial da empreitada. Ao anunciar publicamente este facto, Luther Rescova colocou a si e aos seus um certo nível de exigência e clareza na gestão da res publica.
Há aqui também uma certa pedagogia na abordagem dos assuntos da gestão da coisa pública, uma linguagem menos formal mas actual e real. Uma linguagem que procura incutir uma cultura de compromisso e uma nova atitude. Há uma nova geração de governantes, de que fazem parte Luther Rescova, Vera Daves (Finanças), Paula Francisco Coelho (Ambiente) e Sérgio dos Santos (Economia e Planeamento), que está a começar uma nova era de qualidade comunicacional, de maior disponibilidade para o diálogo/debate e fluidez de informação.
O discurso e o debate são parte integrante da essência do ser humano e contribuem muito para a nossa “humanidade” e racionalidade. Todo o discurso tem como alvo ou pressupõe uma audiência e é esta audiência que interpreta, que simplifica e legitima esse discurso. Há coisas que sabemos conhecer, sabemos que sabemos, há coisas que sabemos desconhecer, mas também há coisas que não sabemos desconhecer, sabemos que não sabemos. Nesta reinauguração da escola Angola e Cuba ficamos a saber que Rescova prioriza o rigor e gestão da res publica. E vamos certamente saber como e onde serão utilizados os tais 500 milhões de kwanzas que restaram.
“Non nobis solum nati sumus ortusque nostri partem patria vindicat, partem amici” – Não nascemos apenas para nós; o nosso país, os nossos amigos, reclamam uma parte de nós, escreveu Cícero.