Cronistas
Saudades do Rio Cuango

O rio Cuango é angolano e por isso não escapa a sua sina aventureira: – nasce no Alto-Tchicapa e vai ,correr além fronteiras.
É um rio estranho, formoso, belo e dos mais importantes, não por ser comprido e caudaloso, mas por haver no seu leito as preciosas e famosas Camangas (Diamantes).
Estuário de grande porte, vagabundo, que nascendo em terras da Lunda, sem peias e muito menos meias, corre veloz para norte até perder-se em terras do Zaire.
Nesta sua caminhada vai cobrindo zonas e espaços de terras malanjinas. Logo que sai do seu berço nata, limita terras da Lunda e Malanje.
Vai engrossando e ultrapassando barreiras no seu longo curso, atinge a sua maioridade e mais nada o detém, perde a nacionalidade e não volta mais a sua terra mãe.
Este Cuango, da minha saudade, belo, profundo, sentimental, canta e chora por terras malanjinas.
Logo que a Lunda fica para trás, nota-se uma diferença no aspecto da paisagem, e o Cuango sente com certa estranheza essa diferença que o faz rugir na sua fatigante corrida… quantas vezes chora pela ternura das suas terras malanjinas, do seu berço !!
Entre raiva e súplicas, torna-se mais emotivo, barulhento, cantando serenatas pelas cataratas de D. Luís.
Um pouco mais além, seguindo a esteira do seu leito agreste, o Cuango já não canta, passa a tom de gargalhadas, ruge, investe, rasga a pedra dura e lança-se com rudeza das suas alturas nas célebres Quedas de S. Guilherme.
Criando um espectáculo maravilhoso, assombroso, como um ataque de histerismo, em rugidos de dor lança-se nesse abismo, transfomando mais abaixo numa renda de água transparente, formando cenário magnífico de cores.
Mal refeito desta louca acobracia, recomeça a correria, ganha de novo forças e cantando a luz do sol e paisagens belas.
Segue sempre, mais além, num esforço tremendo de águas revoltadas, correndo num ímpeto que nada mais o detém, em doidas convulsões, irado, bramindo furioso até… precipitar-se em novo turbilhão nas Quedas de São Fracisco José.
Ò rio Cuango, das minhas brincadeiras, das pescarias, das caçadas ao Jacaré e Hipopotamos… quanta saudade !!
Saudade que se descerra num véu de melancolia e que nos lembra a nossa terra e quanto felizes eramos !!
Só a sente quem a entenda, gosto amargo de Jihenda.
E tú meu Cuango, tal como eu, nunca mais voltaste a tua terra natal.