Eugénio Costa AlmeidaOpinião

TAAG e o “incidente” no aeroporto do Porto

No passado sábado, 12 de Outubro uma aeronave da TAAG, um Boeing 777-300 ER, teve um pequeno “incidente” no aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto, com alguma repercussão na comunicação social. O avião, no parque de estacionamento, tinha ultrapassado os calços e deslizado para uma zona de areia…

Só que não terá sido bem assim, mas… mas foi isso que primeiro transpirou, através de um comunicado da entidade, a ANA Aeroportos, que gere os aeroportos portugueses e citado pela agência portuguesa LUSA onde é citado que «as razões que levaram o avião da TAAG a sair de calços no Aeroporto Francisco Sá Carneiro “terão de ser esclarecidas pelo inquérito que está a ser realizado junto da companhia aérea e da sua empresa de assistência” porque a aeronave terá ficado “destravada e, durante a manhã, deslizou, sem que ninguém se apercebesse”, acrescentando que “alguém se esqueceu de colocar calços nas rodas do avião”» (sapo.pt: https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/ana-abre-inquerito-a-aviao-que-saiu-de-calcos-e-deslizou-ate-zona-de-terra-no-aeroporto-do-porto)

Só por mero acaso, uma pequena nota sem qualquer especulação, claro –como analista e académico não deverei ir por este caminho –, a referida entidade que ganhou a concessão da ANA Aeroportos é de origem francesa e gere, igualmente, aeroportos franceses. É a mesma que, ainda recentemente, colocou cartazes no aeroporto de Faro – também, como os outros, gerido por ela – a propor aos turistas que chegavam que deixassem o barulho da província portuguesa do Algarve e fossem para a calmaria francesa… Estranho? Talvez não…

Voltando ao problema, ou ao “incidente” o que, realmente terá acontecido, conforme imagens de quem o gravou, foi que o braço que liga o aparelho ao rebocador que o estava a levar da zona de chegadas para o estacionamento se partiu e a aeronave deslizou, durante uns poucos metros e sem controlo, até a uma zona de areia onde se imobilizou, aparentemente, sem danos estruturais visíveis, ainda que um portal noticioso tenha assinalado que o B777 no deslizamento teria tocado num poste de iluminação e nuns blocos de pedra que, nas imagens, não são bem visíveis (mais tarde, esta informação foi retirada…).

E aqui chegados, colocou-se – coloca-se – o problema de saber a quem cabe – caberá – a responsabilidade por este “incidente”.

Na minha opinião caberá responsabilidade primeira à entidade eu gere os aeroportos portugueses, porque deverá ser esta quem administra e aloca os procedimentos de estacionamento das aeronaves e não, como a ANA declara pertencer “companhia aérea e da sua empresa de assistência as quais terão de responder em inquérito ao sucedido”, ou seja, “as razões que levaram o avião da TAAG a sair de calços” que, como já se sabe e as imagens difundidas provam-no não é verdade.

Não esquecer que isto é um aeroporto, não um estacionamento de um qualquer supermercado. Por outro lado, as imagens mostram que o rebocador parece pertencer à ANA enão a uma qualquer entidade externa.

Tendo questionado técnicos que trabalham com a manutenção de uma operadora aérea, num dos aeroportos portugueses sobre a quem recai, ou deve recair esse tipo de responsabilidades, a resposta foi um discreto sorriso e nada mais…

Em resposta a uma – esta – questão que coloquei na minha página de Facebook sobre este mesmo assunto, e a pedido de um dos que nele comentaram, um comandante de aviação terá respondido e cito «para se rebocar um avião, a regra de segurança diz que terá que haver técnicos no cockpit (Pilotos, Mecânicos etc.) para travar o avião nestas situações. sabe-se que havia gente no cockpit (não pilotos): se estes cumpriram com os checks antes do reboque (carregar sistema hidráulico) ou estavam a apanhar boleia, a investigação o dirá. Se todas as normas fossem seguidas, poderiam travar o avião, acrescentando, essas lanças de reboque partem depois de um determinado esforço».

Resumindo, se alguém deveria estar dentro da aeronave para accionar os travões, também deveria ter havido rápida intervenção de quem estava no rebocador que não se apercebeu da lança que une este à aeronave se tinha partido; e isto deve ter acontecido por não haver, também, devida manutenção dos aparelhos de terra, pela entidade que gere os aeroportos.

Ou será que esta entidade – que deliberadamente omito o nome – só serve para obter dividendos com o estacionamento das aeronaves que debandam os aeroportos portugueses e, ou, para tentar desviar turistas para aeroportos da sua origem, ou seja, franceses.

E aqui chegados, poderemos ainda estender este caso para o facto de a TAAG continuar a manter como aeronaves operacionais Boeings e estar a comprar – ou estar em vias de comprar – aviões de curta e média distâncias aeronaves de outras empresas que não a maior concorrente da Boeing, a europeia Airbus, que tem como principais países incorporantes, França e Espanha. Companhia que continua a não gozar das preferências da TAAG, para “horror” dos europeu…

Ou seja, e bem pensado, países onde está instalada a sede da operadora concessionária da ANA (França) e onde poderão estar alguns daqueles que o Presidente João Lourenço, recentemente, acusou de estarem a tentar dinamitar a economia nacional (palavras minhas), ou seja, Espanha.

Só assim se entende a rápida acusação de “desleixo”(?) da “companhia aérea e da sua empresa de assistência” por não terem previsto “as razões que levaram o avião da TAAG a sair de calços” e que se sabe, não terem sido estas, mas, tão-só, a quebra da lança que liga a aeronave da TAAG – poderia ter sio outra operadora aérea qualquer – ao rebocador que ia colocar o avião no parque de estacionamento após a largada de passageiros e carga.

Interessante, especulativo…

* Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e investigação para Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**

** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado

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