Cronistas

Tala Mungongo

Entre tantas e inúmeras belezas da província de Malanje, uma encantava-me pela sua beleza e pelo horizonte que nos permitia , era o miradouro de Tala-Mungongo. A serra ali se levantava imponente, quase a prumo, donde a nossa vista abrangia de gosto raro: – toda a Baixa de Cansange do nascer ao pôr do sol.

Ai a nossa imaginação, do belo se contagia e a nossa emoção emerge de vários sentir, por tal corografia. Um nascer de sol  deslumbrante, sobre o verde duma paisagem soberba, luxuriante, de tons diversos e um vento que nos sopra no rosto um cálido perfume da natureza presente.

Sobre nós desce um sentimento melancólico e a nossa alma se encanta à luz de tenua penumbra e de tanta beleza encantadora e deslumbrante. 

Como por toda Angola, também por aqui mora a lenda, de tempos que já lá vão, feitos em noites tremendas de escravidão. Onde se caçavam homens – que desgraça!

O meu coração se confrage ao relembrar esta esta estranha caça de alguns sobas de Cassange.

Na sanzala em  causa, havia confiança, vida, amor; mas certo dia, uma vaga de pavor, entre gentes alarmadas, entrou na sanzala, a morte, dor, destruição, cubatas incendiadas… morreu a esperança, homens, mulheres, crianças, forçadas e levadas como escravos, para a feira de Cassange, onde seriam vendidos, e d`alí para  Luanda, carregados em barcos e destino diversos ou onde a fatalidade os levasse em agonia, privados de liberdade, ventura e alegria.

Entre os cativos desta desgraça, havia um homem, ainda novo, corpo bem constituído, daqueles de raça pura, exemplo vivo dum povo que não verga à desventura. Caminhava juntamente com os demais da sua sanzala, de olhar  ausente, como a sua fala. Somente uma vez estacou seu caminho, por voz de criança a chorar… voltou-se por momentos, fixou os seus olhos na criança. logo ali  veio ao seu pensamento a ideia mágica… tinha que fugir e levar consigo o seu filho.

Em noite escura e de vigilância frágil, fugiu mais o seu filho.

Foram horas de angustia, luta acidentada pelas matas, iludindo os seus perseguidores,, feitas de dor e duma esperança forte e determinada. O menino ao seu lado, sem um aí, sem um grito, era a força do seu paí na luta com os matagais, rios de correntes perigosas, uivar dos chacais e silvar das serpentes…

Até que um dia e no alto duma montanha, que escalou sem nada o deter, cançado, esgotado. Olhando ao seu redor, ficou maravilhado perante tanta graça, cor e encanto, olhou o azul do Céu, soltou um suspiro longo, tomou o filho nos braços e exclamou:

TALA – MUNGONGO

Tala – Mungongo – expressão dum sentir profundo, grito de oração…

TALA – MUNGONGO (OLHA O MUNDO)

Deixe o seu comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Botão Voltar ao Topo

Discover more from Vivências Press News

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading