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Tambores de guerra no MPLA

De que lado estás? Esta é a pergunta que mais se ouve nas hostes do MPLA na esteira de um plano arquitectado por José Eduardo dos Santos que, assustado com o poder do novo Presidente, pretende, a médio prazo, retirar-lhe o tapete.

Em ruptura aberta com João Lourenço a quem apelida agora de “traidor”, o antigo Presidente tem, segundo apurou o Expresso, em Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, actual presidente da Assembleia Nacional, o seu homem de mão para o substituir na liderança do MPLA.

“O velho sonho de Nandó concretizar-se-ia com a sua indicação em 2022 como candidato do MPLA à Presidência da República preparado por Eduardo dos Santos”, revelou fonte do MPLA conhecedora dos meandros deste dossiê.

Qualificando estas jogadas de bastidores como um perigoso fermento divisionista no seio do MPLA, um grupo de notáveis liderado pelo general António França “N’dalu”, histórico chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, está a preparar um abaixo-assinado para encostar à parede Eduardo dos Santos.

Os promotores pretendem convencer pacificamente Eduardo dos Santos a deixar a liderança do MPLA para João Lourenço mas, instalado a crise de confiança entre ambos, nalguns meios teme-se por tempos agitados.

“Não havendo espaço para a coexistência de dois poderes paralelos, ele tem de perceber que a sua época já passou e, que, por isso, só lhe resta sair de cena política enquanto é tempo”, disse ao Expresso Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro.

Higino Carneiro pode vir a ser a figura ideal para a vir a ocupar o cargo de vice-presidente do partido. Carneiro surge como autor da proposta da construção de um monumento em homenagem ao passado nacionalista de Holden Roberto da FNLA e Jonas Savimbi da UNITA e de outro destinado a enaltecer José Eduardo dos Santos como “arquitecto da paz e da reconciliação nacional”.

Lopo do Nascimento, dirigente histórico do MPLA lembra, no entanto que “antes de estender a mão a antigos adversários, é preciso que o MPLA se reconcilie consigo próprio”. Norberto Garcia, novo secretário de informação do MPLA afasta a existência de alas divergentes no partido mas, ao nível do poder central, acentua-se a divisão entre governantes indicados por Eduardo dos Santos e propostos por João Lourenço.

João Melo, ministro responsável pela abertura da comunicação social pública e aliado de João Lourenço, é visto por figuras próximas do antigo Presidente como um “liberal” que “pode vir a cair mais cedo do que esperava”.

Ao ter criado um novo secretariado à sua imagem, José Eduardo dos Santos isolou João Lourenço neste órgão. Mário António, o seu mais seguro aliado, afastado do pelouro da informação, poderá agora a vir a perder também a posição de chairman da Jefi, a holding do MPLA a favor de Paulo Kassoma, secretário-geral do partido.

“Aquilo que ao longo de anos os maiores adversários do MPLA não conseguiram, José Eduardo está agora a fazer : dividi-lo”, aponta Graça Campos, jornalista e director da plataforma Correio Angolense.

Com o MPLA dividido entre “lourencistas e eduardistas”, o jogo de bastidores dos apoiante do antigo Presidente passa agora pelo aliciamento de alguns governadores provinciais e de pivôs de algumas igrejas. Também alguns ministros estão a ser assediados para se posicionarem contra as reformas de João Lourenço.

“Estou do lado da Constituição”, assim terá respondido o ministro do Interior, Ângelo da Veiga, a uma interpelação feita por Carlos Feijó, o homem que Eduardo dos Santos escolheu para, ao nível do MPLA, supervisionar a reforma do Estado.

O respeito pela Constituição e combate à corrupção na tradicional mensagem de fim de ano, foram reafirmados por João Lourenço como bússola orientadora da sua governação.

“José Eduardo, à saída do palácio, esqueceu-se de desmanchar um casaco constitucional que serve na perfeição a um aluno, que está a sair-se melhor do que o professor”, disse ao Expresso o jurista Eleutério Fernandes.

Fonte: Expresso.

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