TAP tem 120 milhões de euros retidos em Angola

O mercado angolano tem sido uma boa fonte de receitas para a TAP, mas a transportadora aérea tarda em conseguir usufruir desses ganhos. No final do ano passado, de acordo com o relatório e contas (R&C) da empresa agora disponibilizado, tinham já sido aplicados 80,8 milhões de euros em dívida de curto prazo do Estado angolano, o dobro do valor registado no final de 2016.
Esta é uma forma de proteger o dinheiro retido no país por dificuldades na obtenção de divisas para a expatriação do capital (devido à crise que Angola atravessa pela baixa do preço do petróleo), já que as operações de compra de obrigações estão indexadas ao dólar ( e não ao kwanza, que têm desvalorizado).
Depois, há ainda, de acordo com o R&C ( que precisa ainda de ser aprovado em assembleia geral, marcada para 9 de maio), depósitos bancários no valor de 41,6 milhões de euros. Neste caso, o dinheiro está denominado em kwanzas, dólares e euros, com a empresa a deparar-se “actualmente” com “dificuldades de repatriamento de fundos). Este valor é superior em cerca de seis milhões de euros ao total dos depósitos no final de 2016. Ao todo, o montante chega aos 122, 4 milhões de euros.
Questionada pelo PÚBLICO sobre esta questão, nomeadamente até onde pode a empresa continuar a intensificar esta situação, fonte oficial respondeu apenas que “a estratégia de investir em títulos do tesouro angolano foi bem-sucedida já que os mesmos estão vinculados ao dólar, o que permitiu minimizar o impacto da desvalorização do kwanza”.
Em Dezembro, e depois de questionado por jornalistas sobre as verbas retidas, o então presidente executivo da empresa, Fernando Pinto, já tinha reconhecido um aumento dos valores aplicados em dívida pública angolana. “Existem dificuldades, todos sabemos”, destacou o gestor, entretanto substituído por Antonoaldo Neves. Afirmando que a empresa continuava em negociações com Luanda, Fernando Pinto acabou por sublinhar que “a situação não pode continuar assim “.
O R&C confirma que o ano passado marcou o regresso aos lucros por parte do grupo, algo que já não acontecia desde 2007, com um resultado positivo de 21,2 milhões de euros. O grande contributo veio da transportadora aérea, com 100,4 milhões de euros ( mais quase 200% face aos 33,5 milhões de 2016), a que se somam 8,7 milhões do negócio de tratamento de bagagens ( a TAP é dona de 49% da Groundforce). Apesar disso, a continuação dos prejuízos na unidade de manutenção e engenharia no Brasil penalizou o resultado final. A TAP Manutenção Brasil teve um prejuízo de 50,1 milhões de euros e a Aeropar Participações (Brasil) registou uma perda de 24,6 milhões.
Não foi possível, no entanto, identificar todos os contributos, positivos e negativos, que acabaram por definir o lucro de 21,2 milhões.
Fonte: PÚBLICO.