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Viajar de transportes por Angola está mais caro

Um ambiente incomum. São 21h07 minutos, o Terminal de Transporte Interprovincial da Macon, no Rocha Pinto, está abarrotado de passageiros. Uns em pé, outros sentados em poucos assentos, mas a maioria está no chão. Não há cadeiras que cheguem. Vêem-se malas e sacos de todos os tamanhos. Até galinha viva é acomodada num saco de plástico preto, com uma pequena abertura para entrar oxigénio.

A jovem Priscila Peneafo está em pé à entrada principal com uma mala preta com pegas de ferro, enquanto mantém um dedo de conversa com António, seu amigo, como fazem questão de definir o grau de relação. Ela tem já viagem marcada para o Cunene, onde vai passar a quadra festiva. O bilhete que antes comprava no valor de 13.400 kwanzas custa, agora, 16.400. Ou seja, os preços registaram uma subida entre mil e três mil kwanzas, por bilhete. “O preço do bilhete subiu e não sei as razões”, atira.

Priscila viaja com regularidade de autocarro, mas reclama ingenuamente a lentidão da condução dos motoristas. Só depois de um pequeno esclarecimento, a jovem percebeu que a tal lentidão da qual se referia tem sido a garantia para uma viagem tranquila e segura. “Se sair daqui às 21 hora só chego a mesma horas do dia seguinte”, justifica a jovem, ainda teimosa.
Não obstante a viagem ser longa, ela não leva comida e compra alguma refeição frugal durante as paragens. Trajada de camisola branca e uma calça preta, muito justa, e com um olhar da flor da juventude, Priscila mantém-se em frente de António, mesmo depois da interrupção da conversa. Mas Priscila pede que os deixemos a sós para concluírem a conversa.

“Senhores, queremos conversar”, diz num tom precedido de sorriso para ofuscar alguma arrogância.
Se no interior do terminal há uma enchente e até um nível de organização, na parte externa observa-se uma balbúrdia. O terminal foi construído com um exíguo parque de estacionamento separado por uma rotunda capaz de albergar umas dez viaturas. A enchente registada deu mostras claras da sua pequenez, uma vez que nem os homens da segurança conseguem acudir o mau estacionamento de viaturas com carga e candidatos a viajantes.

Há quase dez dias, os passageiros dos autocarros das empresas interprovinciais têm vindo a reclamar a subida dos preços dos bilhetes, sem nenhuma justificação quer por parte das transportadoras terrestres, quer por parte do Governo.
Pode-se calcular mais de três centenas de passageiros que, no terminal da Macon, aguardavam ser transportados para diversos pontos do país. As oito bilheteiras também estavam repletas de gente. Um guarda franzino de farda verde, um porrete na mão direita, tenta organizar sem causar medo às pessoas que se acumulam no orifício da bilheteira. As filas são longas. As pessoas não deixam de entrar.

“No aeroporto, não se consegue comprar bilhete de forma oficial, está muito complicado. As agências dizem que não há mais lugar, mas naqueles jovens da rua consegue-se comprar bilhetes a preços altos”, denuncia um passageiro que aguardava na fila, que tinha a viagem prevista para o dia seguinte a Benguela. A tarifa para esta província, que dista a mais de 400 quilómetros de Luanda, subiu mais mil kwanzas, ou seja, de 4.600 para 5.600.

Enchentes nos terminais
O balcão de madeira, todo branco, de informação está vazio, apenas uma ementa de informação está afixada, anunciando futuras rotas a serem abertas, em breve, e um contacto do call center. Olhando para cima, um televisor plasma de 50 polegadas cravado na parede passa e repassa vídeo institucional.
Os passageiros falam ao mesmo tempo, provocando um estridente ruído. Lá mais ao fundo, bem juntinho às portas de embarque, há um restaurante muito concorrido. Está cheio. Numa mesa delgada, com quase um metro de altura, está a passageira Joaquina Madureira, que se preparava para sair. Ela vai ao Huambo e dentro de uma hora estaria já dentro do autocarro. Desta vez pagou 7.300 kwanzas pelo bilhete, ao contrário dos 6.500 que desembolsou no mês de Junho deste ano. “Fiquei assustada com o preço”, diz.
A empatia de Joaquina contagia qualquer um. Sorri quando fala e o seu rosto manifesta um à vontade. Conta que tinha previsões de ir ao Kuando- Kubango, mas o preço subiu três mil kwanzas, estipulado, agora, no valor de 12 mil kwanzas.

“Hoje o terminal está cheio”, confirma, definindo que a viagem tem sido confortável. Com quatro filhos, Joaquina está ansiosa em ver dois filhos que estudam e vivem no Huambo com a sua irmã, mas que, no próximo ano, mudam-se já para o Kuando- Kubango.
Com o regresso previsto para o dia 27, a mulher, dos seus quarenta e poucos anos, diz também desconhecer das reais causas que levou à subida do preço. “A subida dos preços acontece sempre neste mês de Dezembro”, supõe.
O terminal da Ango-Real também regista enchente jamais vista. António Adão adquiriu dois bilhetes para Benguela, um para o filho. Com o bilhete na mão, António explica que notou uma subida no preço. “Subiu para 5.400, quando há um ano paguei quase quatro mil”, diz, revelando que a família toda já está em Benguela. Umas 40 pessoas fazem duas filas. Uma é para aqueles que pretendem viajar no mesmo dia e a outra para os que tencionam viajar no dia seguinte.

Tal como no terminal da Macon, no da Ango-Real está um edital afixado na parede e com novos preços, sem nenhuma justificação. Por incrível que pareça, as duas empresas têm os mesmos preços, o que pressupõe haver concertação.
Já na fila indiana para entrar no autocarro, estão três mulheres no fim, que negam dizer os nomes por temer represálias do ministério onde trabalham. Inacreditável.
O bilhete é adquirido numa zona de terra vermelha, à volta de poeira de carros que entram no estaleiro. É um terminal improvisado. As malas ganham pó durante a colocação no espaço reservado à bagagem do autocarro. Elas dizem que, no ano passado, não houve subida e ficaram pasmadas quando encontraram afixados novos preços praticados pela transportadora rodoviária.
As três vão ao Cunene e como o autocarro não é do tipo vip, iguais ao da Macon, o bilhete ficou a 16.100 mil kwanzas.

“Tem de haver regras para não subirem os preços neste período”, propõe a mulher, a mais franzina do grupo.
O terminal da TCUL mantém os preços para  Malanje e Cuanza- Norte, concretamente nas localidades de Ndalatando e Golungo Alto. A empresa de transporte público já não vai a outras localidades do país há dois anos, devido à degradação dos meios. Nesta altura, os meios novos estão a funcionar apenas na zona urbana de Luanda. Só, no próximo ano, vai receber novos autocarros para circular nas rotas interprovinciais.

Às 11 horas de quinta-feira, o terminal estava vazio. Só estavam os funcionários. Um deles disse que os preços interprovinciais ainda não subiram.
O terminal da SGO, em Viana, está encerrado. Dois agentes da polícia, um sargento e um soldado de primeira, estão debaixo da sombra de árvore ténue, por trás de uma esquadra móvel. No interior do terminal vê-se janelas de vidro, que dá para ver umas cadeiras e mesas. A empresa encerrou o terminal por incapacidade para pagar salários.

Subida de preço viola direitos do consumidor
O presidente da Associação Angolana de Direitos de Consumidor, Diógenes de Oliveira, disse que, para o aumento dos preços, as empresas devia ter a anuência do Ministério das Finanças e não havendo constitui uma violação dos direitos do consumidor. Cintado a lei de defesa do consumidor, Diógenes de Oliveira informou que a associação tinha de fazer parte da reunião, aquando do planeamento da subida do preço. “Não fomos tidos nem achados, para fazer parte da reunião que definiu a subida dos preços dos transportes públicos, pois aqui se trata de uma relação de consumo”.

A Associação Angolana de Direitos do Consumidor defende que o Ministério dos Transportes deve pronunciar-se sobre as razões da subida, principalmente neste período da quadra festiva. “Os usuários dos transportes públicos são a camada mais desfavorecida, mas, infelizmente, os salários não subiram”, disse, lamentando o silêncio das autoridades.

Fonte: jornal de angola

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