Cronistas

Vida a passar ao lado…

“Vai ter que ser internada” – Disse-me a médica depois do resultado das análises voltarem.

“Não posso, amanhã tenho uma reunião importante, e vou trabalhar.. Não posso ficar aqui.” – Disse eu…

Às vezes estamos tão envolvidos com as nossas vidas, que parece que não ouvimos bem. Parece que a correria do dia-a-dia nos cega o discernimento.

Estava com tantas dores, que não conseguia andar direita.. Então fui às urgências… Dizem-me que tenho que ser internada, possivelmente operada, que tenho que ficar para fazer exames e controlar os meus valores… E eu só conseguia pensar nas duas reuniões importantes que finalmente tinha conseguido marcar.

Eu gozava com essas pessoas nos filmes e séries, naqueles momentos ridículos quando lhes dizem por alguma razão médica que precisavam descansar, e eles diziam “Eu não posso parar!”, eu pensava: “Que parvo, acabou de ter um enfarte e está e pensar na reunião de amanhã.”

Fiz o mesmo… Nunca sabemos como vamos reagir em determinadas situações, até estarmos dentro delas. Desta vez não estava a ver televisão. Era eu…

A minha mãe obrigou-me a ficar. Eu não estava a pensar como deve de ser… É assustador pensar que por vezes só uma coisa mesmo grave é que nos faz parar… Raramente paramos para pensar, para refletir… Fazemos coisas atrás de coisas sem realmente percebermos se as coisas que fazemos têm algum sentido para nós…

24 horas depois, já internada no “hospitel” (hospital+hotel), a médica veio ver-me. Tinha feito vários exames e ainda não sabiam muito bem o que eu tinha, então a médica decidiu dizer-me tudo o que eu poderia ter. Entre três ou quatro coisas ela disse a temível palavra: Tumor.

Perguntei o que isso implicava e ela não deu muitos detalhes, tinha que fazer um outro exame para ver o que era.

Esperei dois dias entre fazer o dito exame e saber o resultado. Nessas 48 horas, comecei a pensar como seria se tivesse realmente um tumor… Se haviam outros, se era maligno… Se ia ter que parar tudo, perder cabelo, ficar frágil… Se tudo aquilo que eu dizia ser importante como o trabalho, reuniões, contactos, clientes, desaparecesse… Se tudo o que eu tinha deixasse de ser prioridade…

Fui mais longe, comecei a refletir sobre a possibilidade de perder a vida. Família, amigos, futuro… Tudo!

Já pensaste nisso? Se hoje perdesses tudo? Pensa nisso um pouco agora… Assustador não é? O que farias?

Quando descobri que não tinha tumor nenhum, alguém (já não me lembro quem) disse-me: “Caramba, mais valia terem-te poupado do susto! Que horror!” Eu concordei com as minhas palavras, mas aquele susto fez-me mudar a minha perspetiva sobre a importância que dava a certas coisas.

Tal como tu, que estás a ler este texto, se pensaste realmente na possibilidade de perderes tudo agora, também mudaste ligeiramente de perspetiva, e não precisaste de pensar, como eu, que estavas a morrer.

Essa mudança fez-me sentir um pouco parva relativamente a problemas que eu dava muita importância, a coisas que eu gostava de fazer que comecei, por causa das correrias, a dar menos importância. Até me fez pensar sobre pessoas a quem eu já não dizia nada há imenso tempo simplesmente pelas andanças da vida… Coisas e pessoas que, se tudo acabasse agora, iria arrepender-me de não ter dado o valor devido.

Estás a dar o valor devido às coisas e pessoas? Ou estás a dar demasiado valor a coisas que na verdade não valem? Ou a dar pouco valor às coisas que mais valem?

Espero ter-te ajudado a dar um novo nome àquilo a que chamavas de problema, antes de leres esta história.

Até para a semana!

Deixe o seu comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Botão Voltar ao Topo

Discover more from Vivências Press News

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading