Lições da Catástrofe Moçambicana

Estão bem presentes em nós as imagens das consequências da passagem do furacão Idai pelo Zimbabwe, Malawi e Moçambique: largas centenas de mortos, cidades e aldeias destruídas, terras inundadas em vastas centenas de quilómetros, pessoas sem casas, sem bens, sem comida, lutando para estarem vivas e sobreviverem a ferimentos, doenças e irreparáveis perdas de familiares.
Em todo este cenário uma nota animadora: a rápida chegada da ajuda internacional, quer de países africanos vizinhos e outros, quer de todo o Mundo (num contraste flagrante com a tíbia reacção das autoridades moçambicanas).
Passada a aterrorizante situação, impõe-se reflectir sobre o ocorrido. Começaria por pôr as seguintes questões:
– será que estamos conscientes de que o clima no nosso planeta está de facto a mudar e que cada vez mais haverá fenómenos atmosféricos extremos em qualquer lugar da Terra: furacões, inundações, secas contínuas, gigantescos incêndios florestais, desertificação, subida das águas dos oceanos?
– estarão as autoridades governamentais a tomar medidas no sentido de os seus países contribuírem para travar a deterioração do clima e, por outro lado, enfrentar os fenómenos climáticos desregrados, visando não só minorar as suas consequências materiais, mas, sobretudo, preservar as vidas humanas?
– estará a sociedade civil preparada para participar na luta contra a degradação do clima e para enfrentar situações que podem degenerar em catástrofes?
Procurando responder a estas questões, verificamos que, em alguns países, é elevado o grau de consciência de que o clima está perigosamente mudado e ainda vai mudar mais; contudo, em numerosos outros, é ainda fraca essa consciência.
Quanto à atitude dos governos, verifica-se que, particularmente na Europa, há governos que tomam medidas para preservar o ambiente e atenuar a degradação do clima (isto depois de esses países terem contribuído maciçamente para as alterações climáticas, através duma generalizada industrialização altamente poluente, durante mais de dois séculos). Por outro lado, em outros países fortemente industrializados e poluidores, aparecem dirigentes a rasgar acordos assinados em favor do clima, como é o caso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Respondendo à terceira questão, diria que o activismo contra medidas poluentes e pela melhoria do clima é bem mais notório nos países de economia desenvolvida da Europa, Norte América, Oceânia e no Japão. Aí, os cidadãos promovem conferências sobre o clima e os danos ambientais, organizam e participam em manifestações contra medidas poluentes, organizam e colaboram em iniciativas de melhoria ou preservação do meio ambiente. Também é aí que os governos e a sociedade civil estão mais preparados para se proteger dos fenómenos extremos ou para reagir em caso de situações de catástrofe.
E em África? No nosso continente, ainda há muitos passos a dar, quer na tomada de consciência de que haverá cada vez mais fenómenos climáticos extremos, quer na convicção de que devemos estar preparados (governos e populações) para as suas devastadoras consequências.
O que se passou em Moçambique demonstrou isso. Em Angola, a seca na província do Cunene é persistente e ocasionadora de fome e só agora é que mereceu a atenção do governo; por outro lado, registamos vários mortos na época das chuvas nas cidades, nomeadamente Luanda e Lobito. Nestes últimos exemplos, é marcante a ocupação desordenada do território pelas pessoas e a ausência de intervenção das autoridades que deixam construir em linhas de água, não fazem adequadas obras de escoamento das águas e de saneamento, deixam as populações entregues à sua sorte e ao penoso quotidiano vivido nos seus bairros.
Face ao rápido, desmedido e desordenado crescimento das cidades e à frequência de situações climáticas extremas, particularmente secas e inundações, os países africanos (seus governos e populações) têm de estar cada vez mais preparados para agir em conformidade.