Açores: Farol da Ferraria preserva história do nacionalismo angolano

O que liga um farol com 117 anos de existência ao nosso país? O que liga o Farol da Ferraria, na ilha de São Miguel, Açores ao nosso país, Angola ? Uma figura, um nacionalista, um líder religioso, um angolano. Seu nome ? Simão Gonçalves Toco.
Tendo sido deportado (com a família), pelas autoridades coloniais portuguesas para o Farol da Ferraria no ano de 1963, o nacionalista e líder religioso, Simão Toco, exerceu durante 11 anos ( 1963-1974), as funções de ajudante de faroleiro na Ferraria, facto este, que acabou por colocar a pequena localidade de Ginetes e o já centenário Farol da Ferraria na rota do nacionalismo angolano.
No passado dia 26 de janeiro, o Farol da Ferraria recebeu a visita oficial do Cônsul-Geral de Angola em Lisboa, Narciso do Espírito Santo Júnior, que se tornou na primeira e mais alta entidade diplomática angolana a efectuar uma visita oficial ao farol , aproveitando para abordar com as autoridades marítimas, municipais e regionais aspectos sobre a dimensão cultural, histórica e religiosa de Simão Gonçalves Toco.
Para Paulo Teves, Director Regional das Comunidades, “é um registo extremamente importante e porque aos poucos vamos descobrindo factos da história dos nossos povos, e estas viagens que vocês fazem têm este propósito. Não apenas a relação institucional existente entre Portugal e Angola, mas a relação história e afectivas e depois semelhanças em muitos locais desta presença angolana nos Açores e presença açoriana em Angola “.
Para o jornalista, autor, investigador e director do gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, José Andrade, trata-se de uma informação relevante e que merecerá das autoridades municipais um estudo aprofundado.
” Certamente que a passagem pelo Farol da Ferraria de uma figura que tem para Angola, a dimensão histórica e cultural de Simão Toco, deverá merecer da nossa parte um estudo aprofundado e o merecido reconhecimento. Estamos surpreendidos e honrados com este importante detalhe da história de Angola que passa aqui pelos Açores, através de Simão Toco”.
Mário Riscado é faroleiro chefe e responsável pelo Farol da Ferraria, foi o anfitrião na recepção ao Cônsul-Geral de Angola em Lisboa. Partilhou com os visitantes informações sobre o Farol da Ferraria, bem como documentos que atestam a passagem de Simão Toco pelo farol, através dos livros de registo da actividade diária de 1963-1974, bem como fotografias.
” Obviamente que são presenças que honram a nossa instituição. Primeiro, esta visita que Dr. Narciso do Espírito Santo efectua as nossas instalações na qualidade de Cônsul -Geral de Angola em Lisboa. Segundo pela actividade que durante mais de uma década, um nacionalista e líder religioso angolano, Simão Toco, exerceu no Farol da Ferraria. É uma grande responsabilidade, é uma honra, saber que uma parte interessante e importante da história do nacionalismo angolano também passa por aqui , tem registos no nosso farol . Trata-se de algo que devemos preservar, promover e divulgar em estreita sintonia com as autoridades angolanas “, disse Mário Riscado.
Igreja Tocoísta elogia iniciativa das autoridades açorianas
Quem também acompanhou a visita foi Simão Vemba, representante da Igreja Tocoísta em Portugal, para ele
” Esta iniciativa das autoridades açorianas é um grande sinal do reconhecimento da luta pela independência do nosso país e afirmação da identidade do nosso povo . O Profeta Simão Toco colocou esta pequena localidade açoriana na rota do nacionalismo angolano. Temos conhecimento que nos próximos dias a ministra da Cultura, Dra. Carolina Cerqueira visitará Lisboa, pelo que gostaria de ter a oportunidade para com ela abordar estas iniciativas das autoridades açorianas e contar com o apoio do Estado angolano na promoção e divulgação da passagem de Simão Toco pelos Açores”.