Reflexão e reflectindo sobre Isabel dos Santos…

Estamos quase a cumprir um ano (no próximo mês de Setembro) que João Manuel Gonçalves Lourenço foi eleito Presidente da República, através das listas do MPLA e depois de indicado pelo seu antecessor, José Eduardo dos Santos.
Recorde-se que uma das medidas que ele sempre prometeu levar por diante seria o combate à corrupção e ao tráfico de influência que esta trazia – e traz – sempre consigo.
E, como se sabe, desde a sua posse como Presidente da República, João Lourenço, historiador e general na reserva, tem procurado levar por diante a promessa eleitoral de um modo que parece sério – e não duvido que o seja –e frontal.
E, para isso, nada melhor que começar por aqueles que, à partida, pensariam estar imunes a esse “combate”; ou seja, atacar a direito e sem ver a quem.
A família dos Santos, mais concretamente, os filhos do emérito (nunca sei se é com ou sem aspas…) Presidente José Eduardo dos Santos, talvez pela notoriedade que gozam têm sido dos mais visados: Isabel dos Santos, Welwitschia “Tchizé” dos Santos, José “Zenú” Filomeno dos Santos e o seu sócio e Jean-Claude Bastos de Morais e, ainda que pouco claro, José E. Paulino “Coréon Dé” dos Santos.
Se no princípio Tchizé dos Santos, através das páginas sociais, nomeadamente – pelo menos era por onde sempre recebia os seus reenvios –, via Whatsapp, era quem mais criticava as medidas do Presidente João Lourenço – exonerações, revogação e, ou, suspensões de contratos, fim de subsídios, etc. –, se depois foi Zenú e Bastos de Morais, por causa do Fundo Soberano quem mais pernearam, ainda que, com alguma contenção, tem sido a engª Isabel dos Santos quem, quase desde o início, mais tem criticado e verberado as medidas presidenciais.
E tudo parece estar a acontecer – o timing a isso o leva a pensar – após a aprovação parlamentar da exigência de retorno de capitais saídos, do País – e dos seus cofres –, ilícita ou incorrectamente para o exterior.
E estas medidas, naturalmente e como reconhecem outros analistas, estão a ter impacto sobre certos investimentos e interesses que estão no exterior e cujos antecedentes têm origem em empréstimos obtidos junto de empresas e – bancos, principalmente, – públicas angolanas ou com capital adquirido através dos negócios de favor que, alguns, fizeram com o Estado angolano.
Isabel dos Santos tem sido uma das mais visadas nesta situação.
Como se sabe Isabel dos Santos é uma conceituada empresária e uma das maiores (se não mesmo, entre outros empresários, a maior,) investidoras angolanas – é só considerada, pela revista Forbs, como a mulher mais rica de África e que, segundo as estórias, teria começado com a venda de alguns cestos de ovos (será? “fake news”?) – no exterior, com particular destaque para os elevados investimentos m Portugal.
Ora, recentemente – mais concretamente no início da passada semana (só agora abordo por ter estado fora destas lides) –, três factos “criados” pelo Presidente João Lourenço, levaram Isabel dos Santos a provocar uma “guerra contra o Presidente”, ameaçando levar o Estado angolano a Tribunal e exigir elevada indemnização por danos globais:
- a “expulsão” da empresa Atlantic Ventures, eventualmente ligada a Isabel dos Santos, do consórcio sino-angolano que iria criar e explorar o porto da Barra do Dande, e que ascendia a algo como 1.500 milhões de dólares;
- a anulação do “contrato compra e venda de diamantes brutos que a empresa pública angolana Sodiam tinha com a Odyssey Holding, outra sociedade da empresária angolana, sedeada nos Emirados Árabes Unidos” (ver https://vivenciaspressnews.com/isabel-dos-santos-em-guerra-aberta-com-o-presidente-de-angola/);
- Contenção ou “asfixia” de contratos entre o Estado angolano, nomeadamente, na construção da barragem de Caculo Cabaça, onde alguns dos equipamentos que, inicialmente, poderia vir da portuguesa EFACEC – detida maioritariamente por Isabel dos Santos – podem ser fornecidos pela Alemanha ou a outros fornecedores internacionais (ver https://vivenciaspressnews.com/angola-quer-limitar-poder-de-isabel-dos-santos-em-portugal/).
E, como parece já ter percebido que João Lourenço não evidencia temor ou aparenta claudicar perante estes ataques que venham dos “sofridos”, como da empresária, entre outros, Isabel dos Santos deu, a seu pedido, uma entrevista à MFM, onde lamenta aquilo que ela diz estar a ser “vítima de uma perseguição por parte das autoridades” face ao o carácter “irreversível e inegociável” das decisões do Presidente João Lourenço nesta matéria” e tentar “apresentar o seu ponto de vista e a sua defesa em relação às sucessivas revogações dos contratos assumidos pelas suas empresas e o Governo angolano”.
Uma entrevista que pouco ou nada acrescentou. Uma entrevista onde só se pareceu ouvir lamentos, com muita parra e – se houve, foi muito encapotada –, pouquíssima uva (uma analogia lusa, já que a entrevista foi dada durante a sua estadia em Portugal, e com este país em expectativa face à visita, em breve, do seu primeiro-ministro, António Costa, a Luanda, e de contrapartidas que dessa visita possa trazer da Cidade Alta…).
Ora como ela pensa colocar o Estado angolano em Tribunal e como a Procuradoria-geral da República (PGR) diz que a notificou ou tentou notificar – a PGR diz e reafirma que sim; Isabel dos Santos, nega – por causa de um outro processo, creio que ainda relacionado com a sua gestão na Sonangol, Isabel dos Santos pode aproveitar para começar a dizer da sua justiça face à Justiça.
Mas, sendo considerada uma empresária forte e muito inteligente – e normalmente bem assessorada – é de crer que a nossa “maior empresária” (ainda o é?) irá reflectir bem sobre toda esta matéria e ponderar até onde deve ir no seu combate ao Presidente João Lourenço. Nunca se sabe qual o tipo de armas que o adversário realmente tem, quem as segura e quem as dispara, de facto…
*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
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