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Primeira associação LGBT em Angola espera mudanças

A Associação Íris foi legalizada há um mês em Luanda. Depois de um longo processo, a primeira associação LGBT de Angola espera poder trabalhar mais afincadamente em campanhas sobre os direitos da comunidade.

Cheira a tinta fresca na nova sede da Associação Íris, em Luanda. Os membros da associação ainda estão a pintar a casa. A Íris acaba de ser legalizada e o coordenador Carlos Fernandes espera que isso traga mudanças.

A comunidade Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (LGBT) continua a ser discriminada em Angola e fala-se pouco sobre o tema. “As pessoas evitam ou fingem que não querem falar sobre algo que já existe. Em Angola, temos muitos problemas em falar das coisas”, conta Carlos Fernandes. “Sou homossexual e nunca deixei de ser homossexual apesar dos comentários negativos. Mas, ainda assim, há aberturas”, destaca.

Os comentários negativos são fruto da falta de informação, comenta Sander Eliezer, que é transgénero e foi alvo de discriminação na escola. “Estava a estudar na 12ª classe. Um dos professores que era responsável pelos exames disse que eu não podia fazer as provas se não me vestisse como uma mulher”, recorda.

E não é só na escola ou no trabalho. Muitas vezes, a discriminação começa em casa. Laura Bonifácio, conhecida como “Marley”, conta que a sua orientação sexual gerou controvérsia na sua família. Mas diz que é preciso resistir a isso tudo.

“Se formos heterossexuais, as pessoas reclamam. Se formos homossexuais, as pessoas reclamam também. A vida é difícil para os humanos e ninguém tem a vida fácil. Se não tivermos problemas no seio familiar, vamos encontrar problemas fora”, diz.

Mais de 200 membros

A Associação Íris já tem mais de 200 membros, incluindo algumas figuras públicas, segundo o coordenador Carlos Fernandes. Agora que está legalizada, o coordenador espera que a associação possa dar voz à comunidade LGBT e ajudar muitos angolanos a “saírem do armário” e assumirem-se como homossexuais, bissexuais ou transgénero.

Há muitos anos que a Íris, que foi criada em 2015, esperava por esta oficialização. Mesmo sem certidão de constituição, a associação já participou em vários projetos.

“Estivemos envolvidos em estratégias em relação ao acesso à saúde para os membros da nossa comunidade. Também trabalhamos em conjunto com o Ministério da Educação e com a UNICEF, que elaborou um manual de educação de paz que fala sobre sexualidade na juventude, violência doméstica, bullying, e também conseguimos incluir a questão da identidade de género, orientação sexual e violência contra os membros da nossa comunidade”, conta Carlos Fernandes.

Mauro Sérgio é heterossexual e já é membro da associação há algum tempo, mas ainda ouve muitas críticas: “Alguns ainda me criticam porque sou amigo de gays e lésbicas. Outros até perguntam o que eu vi neles. E respondo somente que são pessoas comuns, tal como eu.”

Esta é uma das mensagens que a Associação Íris pretende disseminar em Angola. Agora que está oficializada, a associação poderá ter acesso a mais financiamento para as suas atividades. A nova sede já está pintada de fresco, mas ainda há muito trabalho por fazer.

Fonte: DW

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