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O campeonato vai mudar de regras (mas a bola continua redonda)

O Trump é o máximo. Consegue alcançar objetivos incríveis em poucas semanas. Por exemplo: conseguiu apresentar um orçamento federal com erros quantitativos, destruir um sistema de saúde sem criar outro do mesmo gabarito, desorientar a opinião publica sobre interferência russa na sua campanha eleitoral, sair do maior projeto de livre comércio do mundo pensando que isso vai criar empregos no país, ir falar com o Papa que o recebeu com sorrisos e despediu-se dele com cara muito chateada, criar inimizades com vizinhos e velhos aliados e, enfim, fazer dos Estados Unidos bombo da festa neste momento: todos podem lhe dar porrada, acusá-los de complicar o mundo ainda mais e lançar-lhe à cara uma vaga de piadas sobre ridículo. Com bué de altas gargalhadas.
Ninguém pode garantir se é intencional, tipo humorista de televisão ou se vai á tôa, como se jogasse fichas num casino pelo palpite. A verdade é que o mundo olha entre assustado e divertido para o show e diz: “com este não dá”. A primeira ministra do Reino Unido, que procura retomar o isolacionismo britânico dos tempos das lutas contra os vikings, dá-lhe um apoio incomodado, até porque a bagunça interna nos altos escalões USA foi ao ponto de entregarem à imprensa informações confidenciais sobre o recente atentado de Manchester. A polícia inglesa deve ter vociferado palavrões que – desculpem – não vou mencionar aqui.  

Funcionários da Casa Branca são nomeados e desnomeados como se fosse a casa da sogra mais abandalhada, sem consideração pela valor histórico daquela Casa. Lá moraram (só para citar quatro): Lincoln que mudou politicamente os Estados Unidos; Franklin Roosevelt que enfrentou a luta contra a pobreza na crise dos anos 30 e em seguida desequilibrou a balança na luta contra o nazismo; Bill Clinton que, com sua ex amiga Monica Lewinsky, batizou o Salão Oval, com requintes daquilo que a humanidade mais gosta de fazer, sendo mundialmente ovacionado pelo feito (eu incluído) e, enfim, o Barak Obama que fez dos Estados Unidos um dos países mais simpáticos do mundo (exceto para ditadores ou rivais)

O Putin vai se servindo deste novo perfil da Casa Branca, numa de ver se consegue abrir brechas, mas não precisa matutar muito. A Europa já topou o desafio e articula para alargar a margem de autonomia.

No passado domingo, Angela Merkel disse que a Europa não pode confiar nem nos USA nem no Reino Unido; na segunda feira, E. Macron recebeu Vladimir Putin em Versalhes, um cubico ainda maior que a Casa Branca, onde só são recebidos os muito grandes do planeta quando a França tem algum plano para eles. Isto desde há séculos. Em 1717 esteve lá precisamente Pedro o Grande, czar da Rússia. Lembrem-se: após tomar posse, o novo Presidente francês esteve horas em Berlim com a tia Angela. Pra quê? Divisão de tarefas. O papo franco-russo foi mambo rijo sobre Direitos Humanos (Paris não esqueceu que Marine Le Pen foi recebida com honras no Kremlin) e sobre a Síria, mas de muita gentileza sobre combate ao terrorismo e economia. Macron até disse na conferência de imprensa que era favorável a desescalada sobre a Ucrânia, incluindo nesse pacote a questão das sanções à Rússia.

Ainda faltam elementos para anunciar mudança de game, porém, caminhamos para lá e, de certeza, o quadro geopolítico mundial está aberto como nunca desde a queda do muro de Berlim.

Para África, Ásia e América Latina, no meio de tanta desgraça, o aumento da multipolaridade é uma boa! Resta saber se teremos dirigentes e sociedades civis capazes de aproveitar e entrar em campo com nova tática de jogo. Se a tia Angela não confia nos gringos, nós aqui pelo sul não podemos confiar nos tais BRICS para ganhar e ficar na primeira divisão. Ali só tem xerifes mal encarados e ladrões. Temos de convocar nova seleção com verdadeiros craques, não com jogadores que se acham donos da bola e até roubam nos patrocínios.

A temporada promete e só estamos na fase de grupos. É bom jogar sem dogmas engessados e evitar o acontecido com alguns que, em 1989, ficaram desbussolados quando lhe caíram na cabeça as placas de cimento daquele muro desfeito.

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