Cronistas

Armindo Alcarva: Um “satélite” angolano no Cazaquistão

O lançamento do primeiro satélite angolano denominado “AngoSat-1” tem sido sucessivamente adiado e chegou antes a estar previsto para setembro último e depois para 7 de dezembro e agora está agendado para esta terça-feira, 26. O acto oficial de lançamento em órbita do “AngoSat-1”, primeiro satélite angolano construído por especialistas russos,será transmitido para toda Angola, por via de um “espectáculo televisivo” com duração de três a cinco minutos. O satélite entra em órbita pelas 19 horas de Angola, depois de concluída a sua fase de integração ao módulo lançador. O lançamento será feito por meio do foguete transportador ucraniano Zenit, a partir do Cosmódromo de Baikonour, no Cazaquistão.
A construção do satélite, que vai reforçar as comunicações nacionais e internacionais, arrancou a 19 de novembro de 2013. O “AngoSat-1″ vai disponibilizar serviços de telecomunicações, televisão, internet e governo electrónico, devendo permanecer em órbita” na melhor das hipóteses” durante 18 anos.
O Cazaquistão abriu as portas aos visitantes depois da queda do muro de Berlim e fim da antiga União Soviética, aí ele “reconquistou” a sua independência. É hoje o nono maior país do mundo em extensão territorial, com tamanho comparável ao da Europa Ocidental. É o maior país sem costa marítima do mundo. Fica situado na Ásia Central, mas também tem uma pontinha à oeste que pertence a Europa. Imenso, plantado no meio de estepes e cheio de espaços vazios. O Cazaquistão tem hoje “apenas” 17 milhões de habitantes . Faz fronteira com a Rússia, a China, o Uzbequistão, Turcomenistão e Quirguistão. Estes três últimos tal como o Casaquistão terminam em “istão”, que na língua persa significa ” a terra dos”.
Cazaquistão é um país de grande riqueza cultural impregnada de influências turcas e iranianas. O país desperta interesse por ter sido trilhado por Alexandre ” o Grande”, rei da Macedônia e discípulo de Aristóteles. Por ter tido mais de 2 mil quilómetros do seu território fazendo parte da antiga Rota da Seda. Fez também parte das conquistas do temido conquistador Gengis Khan, no século XII. Além disso, o Cosmódromo de Baikonour, a primeira e maior base de lançamentos de foguetes do mundo, que foi o ponto de partida do primeiro foguete ao espaço com o soviético Yuri Gagarin, em 1961. Os cazaques até há uns anos levavam uma vida nómada. Viviam em tendas chamadas de Yurtas que eram facilmente montadas e desmontadas conforme se movimentavam pelas estepes desertas em busca de bons pastos para os seus rebanhos.
 No meio de um passado forte e repleto de tradições milenares surge uma capital moderna: Astana. Astana na língua cazaque quer dizer “capital”. Uma cidade que começou a ser construída em 1997 com inspiração em Brasília, onde havia apenas um vilarejo chamado Aqmola, cercado por campos de batata. Astana é hoje uma mistura de Brasília com Dubai. Tudo ideia do metalúrgico e presidente Nursultan Nazarbayev que ocupa o cargo desde que o país se tornou independente em dezembro de 1991, resolveu transferir a capital de Almaty, ao sul do país na fronteira com o Quirguistão e a China. Em 20 anos, o resultado é surpreendente . Prédios de arquitectura arrojada sobem aos céus com tremenda velocidade, gruas por toda a parte e cheiro de asfalto no ar bem típico de uma cidade em construção .Financiada pelo gás e pelo petróleo.
O plano piloto foi desenhado pelo arquitecto japonês Kisho Kurokawa (falecido em 2007) . É uma cidade de contrastes, de um lado do famoso rio Estil, a velha Astana cheia de prédios em estilo soviético de linhas duras e cores sóbrias (onde não há quase nada para se ver), e do outro lado, prédios espelhados, envidraçados , arrojados , coloridos, imponentes e até espalhafatosos . Uma cidade com uma população de 800 mil habitantes e que espera ter 1 milhão em 2030. Uma das grandes estratégias do país tem sido a de sediar grandes congresso e conferências sobre os mais diversos assunto, desde religião até petróleo e gás, além dos campeonatos mundiais de ciclismo e judo. A Expo-2017 foi outro grande evento de destaque mundial que o Cazaquistão acolheu.
Mas o que pode ligar o Cazaquistão a Angola? E aqui entra um angolano de seu nome Armindo Alcarva. Um já cinquentenário nascido em Waku-Kungo, província do Cuanza-Sul. Ele vive no Cazaquistão desde o ano de 2002, altura em que foi abrir o escritório da empresa Suíça Panalpina em Almaty e depois em Atyrau. O Armindo Alcarva vive há 15 anos no Cazaquistão, é casado com uma cidadão cazaque e têm já uma filha com 10 anos de idade. Tem o estatuto de cidadão residente ( existe muita burocracia e uma certa “resistência” das autoridades locais na atribuição da dupla nacionalidade), e é certamente um dos poucos ou mesmo o único angolano com estatuto de residente no Cazaquistão. Por isso fazendo uma analogia ao “AngoSat-1″ que será agora lançado, digo que este meu amigo e xará, Armindo Alcarva é um ” satélite ” angolano no Cazaquistão . A nossa amizade começou em Luanda no ano de 2006 na empresa Panalpina, onde eu era responsável pelos Recursos Humanos e ele veio exercer o cargo de Director de Operações da empresa em Angola . Começou aí uma relação de trabalho, amizade, respeito e admiração mútuas . Criamos um nexo de cumplicidade, de respeito que é profundamente gratificante.
A personalidade não é dado irredutível e permanente, mas uma espécie de sedimento construído ao longo da vida, na qual todas as experiências se reflectem. Ela constrói-se e passa a ser consequência de tudo aquilo que nos vai acontecendo. A personalidade é um reflexo das nossas vivências, das nossas experiências. O Armindo Alcarva é hoje um homem com uma grande mundivivência e interessante mundividência . É um homem do mundo com experiências bem vincadas nas passagens por Angola, Portugal, Brasil, Suíça e ultimamente no Cazaquistão . Ele compreende que a grandeza jamais é algo dado, precisa de ser conquistada. É um líder que percebe que um verdadeiro líder só existe por causa daqueles que lidera.
Há coisas que se colam à nossa como se fossem a própria pele. Há pessoas que entram de rompante na nossa vida e lá ficam. Tornam-se bastante representativas para nós, tornam-se inspiradoras e com elas criamos a tal química, e formamos uma unidade. Elas passam a viver em nós. O Armindo Alcarva consegue criar uma “poética de afectos”, consegue trazer-nos sempre um mundo de possibilidades, de novas experiências, de vivências com substância, com forma e conteúdo. Ele tem uma coerência e sentido de justiça que muito admiro. Transmite a tal ” poética dos afectos” que é comum as várias experiências que tem da vida. Transmite um conhecimento na diferença e espírito de aventureiro, numa versão menos frenética e mais suave de Indiana Jones. É com ele que vou sabendo da histórias e estórias do Cazaquistão, país que agora entra também para a nossa história com o lançamento do satélite “AngoSat-1”. Mas se formos justos, honestos e coerentes, teremos de dizer que o Cazaquistão já entrou no nosso mapa em 2002, quando um outro “satélite” angolano, mais humano e sentimental, de seu nome Armindo Alcarva lá chegou. Com uma vida dividida entre Cazaquistão, Suíça e Luanda.  Por isso com muito orgulho escrevo esta crónica e sei também que nesta terça-feira, 26 de dezembro. Estará na TV Zimbo para acompanhar o lançamento do satélite “AngoSat-1″ e falar da sua história, da cultura e experiência no Cazaquistão . Enfim será um ” satélite ” a falar de outro satélite. E termino com palavras suas numa das nossas conversas:
“Gosto muito do Cazaquistão. Identifico-me muito com o seu povo, hábitos e cultura, costumes e gastronomia. Hoje o facto de ser casado com uma cidadã cazaque e de termos uma filha, reforça este sentimento. Adoro o Cazaquistão e diria mesmo que depois de Angola é o país que mais mexe comigo. É uma experiência única e reveladora”.

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