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Repressão em Cabinda aumentou com João Lourenço, dizem activistas

A situação em Cabinda “está a piorar” desde a chegada de João Lourenço à presidência de Angola e sente-se “mesmo uma mão de ferro” no território.

“No tempo de José Eduardo dos Santos, nunca vimos 70 e tal activistas a serem presos de uma só vez”, afirma José Marcos Mavungo, activista que esteve preso 433 dias por tentar organizar uma manifestação e hoje vive em Portugal.

De acordo com o deputado Raul Danda, eleito em Cabinda nas listas da UNITA, 60 activistas foram detidos entre Janeiro e Fevereiro, 50 deles foram, entretanto, libertados , mas há ainda 11 activistas (dez da primeira leva e um que foi preso há umas semanas) que estão na prisão, acusados de rebelião, associação criminosa, arruaça e desacato. Entre os detidos figuram o presidente e o vice-presidente do Movimento Independentista de Cabinda (MIC).

“Há uma grande tensão”, no território, afirma ao PÚBLICO o líder de outra associação política cabinda, o Movimento da Reunificação do Povo de Cabinda para a sua Soberania (MRPCS), Arão Bula Tempo, advogado que passou dois meses na prisão por motivos políticos em 2015 ( e ainda hoje o seu processo não foi arquivado), garante que existe ” repressão, opressão, detenções arbitrárias, maus tratos”.

É num clima de novas reivindicações e de um movimento de jovens aguerrido e disposto a May cair nos mesmos erros dos mais velhos, uma “geração que não quer outra coisa que não seja a Independência”, como explica Raul Tati, que surgem novas movimentações do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), que nos anos 2000 agrupou os grupos cabindas para dialogar com o Governo angolano. Uma associação que se julgava desaparecida, até porque em 2006, quando António Bento Bembe, hoje deputado do MPLA , assinou o Memorando de Entendimento com o Governo angolano, já a maioria desses grupos havia rejeitado o fórum e o acordo, que nunca sequer foi posto em prática por Luanda.

Foi com alguma surpresa que os líderes cabindas viram o FCD, que parecia morto e enterrado, voltar a surgir em cena, agora pelas mãos do general Maurício Nzulu, que foi vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, a propor reunificar os pequenos grupos independentistas no enclave.

“O Governo tem estado a aumentar o contigente repressivo no território e, como precisa ao mesmo tempo de uma sociedade civil fiel aos seus desígnios, reutiliza o FCD, um instrumento moribundo”, explica Sedrick Carvalho, coordenador do livro Cabinda -Um Território em Disputa.

“Quando surge alguma vontade, alguma mobilização do povo para uma solução, sempre aparecem elementos ligados ao regime para perturbar os destinos do povo de Cabinda”, afirma também Arão Bula Tempo.

Raul Tati refere que chegou a ser sondado por membros do FCD para substituir Bento Bembe na direcção, só que, depois de auscultar opiniões da sociedade civil no território, percebeu que “não valia a pena embarcar nisto”, porque “há uma indiferença absoluta em relação ao FCD”.

Tati, antigo vigário-geral da diocese de Cabinda, sublinha que “este general não tem credibilidade”, é um militar que “do ponto de vista político não tem nem estatuto nem nível” para conseguir “levar o Governo de Angola a mudar as suas posições em relação a Cabinda.

Até porque, como diz Sedrick Carvalho, é alguém que “está igualmente comprometido com as autoridades angolanas”.

Fonte: PÚBLICO.

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