Editorial

Plantar, cuidar e preservar

A Organização da Mulher Angolana (OMA) lançou no mês de Novembro uma campanha nacional de plantação de árvores. A iniciativa, com o lema “Junte-se a nós e plante uma árvore”, conseguiu plantar 18.941 árvores, estando inicialmente previstas 16 mil, e abrangeu 148 municípios, assumindo uma cobertura de 90% do território nacional, segundo avançaram os organizadores durante a cerimónia de encerramento.

O término da campanha contou com a presença do Presidente da República, João Lourenço, da primeira-dama, Ana Dias Lourenço, da ministra do Ambiente, Paula Francisco Coelho, do governador de Luanda, Sérgio Luther Rescova, que plantaram árvores na Marginal da Corimba (a Nova Marginal), tendo sido dito que cada árvore passaria a ter o nome da entidade responsável pela sua plantação. João Lourenço esteve na conferência mundial sobre as Alterações Climáticas, que teve lugar na sede da ONU em Nova Iorque, no passado mês de Outubro, tendo falado dos nossos desafios do Executivo em matéria de políticas ambientais bem como do compromisso que Angola tem com os acordos internacionais que ratificou (Protocolo de Quioto, Acordo de Paris, entre outros), não esquecendo também que algumas províncias do país (Cunene, Namibe e Huíla) são afectadas pela seca.

Acho importante que os partidos através das suas organizações femininas ou juvenis comecem a preocupar-se com as questões ambientais e dinamizem os seus militantes para este tipo de causas. Em muitos países do continente europeu existem partidos ecologistas, os chamados “Partidos Verdes”, que têm como bandeira as questões do meio ambiente.

Faz-nos falta ter de forma mais assertiva a educação ambiental nas escolas, faz-nos falta cultura e pedagogias em torno do ambiente, faz-nos falta ter as questões ambientais nos discursos políticos e nos grandes debates da comunicação social, faz-nos falta uma estratégia nacional de combate às alterações climáticas. É preciso que João Lourenço não fique apenas pela participação em campanhas ambientais de iniciativa do seu partido (MPLA), mas que aproveite o seu poder, a influência e a autoridade para mobilizar os jovens e as associações de defesa do ambiente para novas causas. Precisa de os envolver neste compromisso que o País tem assumido junto dos organismos internacionais, que os receba na Cidade Alta ou que vá ao terreno apoiar as suas iniciativas tal como fez no caso da OMA. Que neste caso seja um Presidente “distribuído e distribuidor” e não “dividido e partidário”. Há em Angola um movimento ambientalista que já gerou associações como a Juventude Ecológica, que teve força no passado mas que por falta de apoio institucional acabou por ficar “adormecido” e hoje o Presidente da República pode ser um elemento crucial para despertar estes jovens para os nossos desafios e causas. Há jovens pelo País a cuidar e a preservar os mangais e que precisam de um olhar, de um apoio institucional. João Lourenço tem consigo uma ministra do Ambiente que é jovem, excelente profissional e culta, com conhecimento da matéria e cultura ambiental, Paula Francisco Coelho, que pode ser um perfeito aliado. Precisa também de dar mais força ao Ministério do Ambiente e propor um aumento das verbas para a instituição no próximo Orçamento Geral do Estado (OGE).

É interessante ver num dia João Lourenço a plantar árvores e a fazer um apelo para práticas ambientais, mas duas semanas antes, o governador de Luanda faz a reabertura de uma via rodoviária (que esteve encerrada ao trânsito durante dois anos), cujas árvores foram arrancadas sem apelo nem agravo. Parece a história do lençol que está sempre curto: quando tapa a cabeça deixa os pés descobertos e vice-versa. Aconteceu o mesmo com as obras de ampliação da estrada da Refinaria de Luanda, onde árvores foram arrancadas também. Enquanto não se exigirem e respeitarem os estudos de impacto ambiental vamos liderar sempre a “turma do betão” para quem estas coisas do ambiente e das alterações climáticas não “aquece e nem arrefece”. Plantam-se num mês quase 19 mil árvores mas assiste-se impávida e serenamente ao desmatamento em províncias como Moxico, Huíla, Cabinda e Cuando-Cubango. A floresta desaparece e a madeira é retirada do País aos olhos de todos. A Zona Verde do Alvalade que devia ser um pequeno pulmão da cidade está ao abandono.

Um dos grandes problemas das nossas governações é a estabilidade, a consistência e a continuidade das políticas. Os projectos são todos bonitos e bem estruturados quando estão no papel, as iniciativas têm sempre um bom arranque e bastante divulgação mediática, mas acaba por ser como ter velocistas numa prova de fundo. Ter atletas de 100 ou 200 metros numa Maratona (42 quilómetros) só pode gerar é um bom arranque mas nunca uma garantia de que vão terminar a prova. Não existem projectos ou programas ambientais para as novas centralidades onde há espaço e terreno suficiente para se fazer um Central Park ao nosso jeito. Daí que nos admiremos quando nos dizem que Luena já tem mais acácias-rubras que Benguela e que o sol no Zango tem outra intensidade. Plantar e não cuidar é igual ao homem que coloca o filho no mundo mas não cria. Faz sentido colocar um filho no mundo e não o criar? Não! Também será que faz sentido plantar árvores para depois não cuidar delas? Também não! Faz-me lembrar um certo jardim que foi inaugurado nas imediações do aeroporto, por altura da visita do Presidente brasileiro Fernando Collor de Mello ao nosso país, e que meses depois já estava ao abandono.

Plantar, cuidar e preservar.

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